Micale está voltando ao Brasil com as mãos abanando (o vencedor foi o time de beisebol do Chicago Cubs) e já preparado para encarar a vida de desempregado. Sim, menos de seis meses que viver a glória de levar a seleção brasileira à inédita conquista olímpica, o treinador não conseguiu colocar a equipe sub-20 no Mundial da categoria e isso custará seu cargo. A menos que ocorra um milagre.
Marco Polo Del Nero, o presidente da CBF, é implacável com perdedores. É adepto da tese de que futebol é resultado, e resultado são vitórias, títulos. Nada além disso interessa, não importa nada, nem as circunstâncias.
É verdade que a seleção sub-2o foi mal convocada, mal escalada (prova disso é que em nenhum momento da competição Micale teve um time) e mal treinada. Mas, se tivesse lutado pelo título e, principalmente, garantidovaga no Mundial, o treinador salvaria seu pescoço. E talvez também o de Erasmo Damiani, seu braço direito.
Como isso não ocorreu, a demissão é o próximo passo, embora Del Nero diga que ainda não sabe exatamente o que fazer.
Mas ele tem disposição de trocar o comando, tem auxiliares que pensam da mesma maneira e, além disso, há um outro fator: Edu Gaspar, o coordenador de seleções, quer ter na base alguém mais afinado com filosofia dele e de Tite.
Micale se reunirá com Del Nero nos próximos dias, talvez ainda nesta sexta-feira, e dificilmente sairá da sala sem o bilhete azul.
A ironia é que, logo após ganhar a medalha de ouro, em agosto passado, Rogério Micale recebeu convite para assumir o comando de alguns clubes brasileiros. Preferiu renovar com a CBF, seduzido pelo projeto de fazer um trabalho de preparação da seleção para a Olimpíada de Tóquio, em 2020.
Mas o bom baiano ao menos sempre teve noção do risco que corria. Questionado sobre se tinha garantia de que ficaria na CBF até os Jogos do Japão, disse que futebol é resultado e que podia ser demitido em caso de algum escorregão em seu trabalho na base.Rogério Micale nunca foi tão feliz em uma resposta.