O futebol mundial está sofrendo a maior tentativa de saque de sua história de pouco mais de um século e meio, se considerarmos como recorte de tempo a criação, em 1863, da The Football Association, que estabeleceu as bases e as regras do jogo, na Inglaterra.
E é justamente da Inglaterra que vem a maioria dos saqueadores atuais, na sua maioria empresários ganaciosos, que têm pouca ou nenhuma afinidade com o futebol e que só veem na sua frente cifrões.
Por isso, a absurda, estapafúrdia e até criminosa iniciativa de criar a tal Superliga Europeia, competição de elite, que proporcionará aos acionistas desses clubes, os abutres travestidos de empresários, grandes lucros.
Impondo a todo o resto a condição de pobres, quando não de miseráveis, do futebol.
Manchester United, Manchester City (pobretão até outro dia, e que mudou de vida com a chegada de um sheik), Chelsea (também pobre até um russo começar a colocar lá seu dinheiro, cuja origem é motivo até hoje de controvérsia), Liverpool, Arsenal e Tottenham (clube de exemplar estrutura, mas cuja coleção de troféus carece de sala para abrigá-los, pois cabem na despensa) são os ingleses que querem a reserva de mercado.
A eles se juntam os riquíssimos espanhóis Real Madrid e Barcelona e o muito bem de vida Atlético de Madrid, clubes cuja administração é mais afeita aos moldes do futebol, mas a ganância de seus presidentes é igual a dos parceiros ingleses.
Fecham a lista Milan, Inter de Milão e Juventus.
Ou seja, 12 clubes de apenas 3 países querem dar as cartas no futebol europeus (e por extensão, mundial) e, acima de tudo, ganhar muito dinheiro fazendo um torneio no qual terão cadeira cativa - pois já definiram que não serão rebaixados.
Mas, magnânimos que são, a cada ano receberão alguns convivados - que entrarão na festa para apanhar, não para comer os salgadinhos.
A esses abutres o que interessa, repito, é o dinheiro. A eles não importa saber como o futebol funciona, o que realmente importa, o que o leva a ser o esporte preferido mundialmente.
A eles não importam nem os torcedores, pois o dinheiro estará garantido pelo contrato de exibição dos jogos pela TV e pelos patrocinadores e investidores da empreitada.
O desinteresse pelos torcedores ficou claro pelo horário de lançamento da Superliga: fim de noite na Europa, mas dia claro na Ásia, de onde esperam que venham as maiores audiências televisivas e a grana dos investidores para encher seus cofres.
Não é de surpreender. Como não conhecem o futebol, negam que tudo que move esse esporte tenha importância.
Clubes têm o direito, e até o dever, de faturar o máximo possível. É admissível que reclamem dos ganhos recebidos das entidades que os têm sob controle, como a Uefa no caso específico, que nunca são generosas na hora de repartir o pão.
Daí a fazer algo que só os beneficiem, deixando centenas de outros clubes à míngua, é atitude baixa, rasteira, e até criminosa.
Então, que pressionem os cartolas de federações nacionais, continentais e a Fifa a serem mais justas. Que façam valer os seus direitos sem prejudicar os outros clubes.
Que parem de querer saquear o futebol.