Almir Leite
06 de junho de 2022 | 14h41
Quem acompanha de perto a seleção brasileira, algo que, com exceção das competições oficiais, tem se tornado enfadonho e até desinteressante nos últimos tempos, sabe que Tite defende que a observação de um jogador não é feita somente dentro de campo, e durante os jogos.
O treinador considera que a definição ou não se um atleta tem condições de defender a seleção passa por seu desempenho nos treinos; o comportamento com o grupo; a maneira como se relaciona os colegas; se se sente à vontade ou se mostra retraído… E acha importante mostrar a jovens promissores como é a seleção por dentro para que, quando vierem a ser aproveitados de fato, já conheçam a engrenagem, tenham noção da responsabilidade, enfim, estejam aclimatados.
Por isso, no passado, levou em algumas convocações os goleiros Hugo Souza, hoje titular contestado do Flamengo, e Ivan, na época na Ponte Preta e atualmente no Corinthians, por exemplo.
É um critério.
O que não significa que não pode, ou deva, ser examinado. E contestado, principalmente quando dá margem a entendimento de que por traz da boa intenção existe boa dose de demagogia. Ou, mínimo, de falta de bom senso.
É o que está parecendo na convocação de Danilo. Tite tirou o jovem e superpromissor volante do Palmeiras para passear na Ásia, criando nela a ilusão de que poderá ir à Copa, quando todas as evidências mostram que o treinador, já tem mais do que definidos os volantes que embarcarão para o Catar. A saber: Casemiro, Fabinho, Fred e Bruno Guimarães. Quatro excelentes escolhas.
Danilo não está na mira de Tite, pelo menos não se ele não perder seus preferidos por motivos que fogem a seu controle. Então, por que tirá-lo de seu time e nem sequer colocá-lo em campo por cinco minutinhos que fossem? Em véspera de Copa do Mundo, o argumento da aclimatação, da experiência para o futuro, não cola, pois o que interessa é o presente.
Passada a Copa, e já sem Tite, Danilo terá todo o tempo do mundo para se desenvolver na seleção. Poderia muito bem esperar – Rafael Veiga e Hulk, por exemplo, que o treinado insiste em ignorar, sabe se lá por que, não poderiam – e depois iniciar um novo ciclo na forma de convocações constantes e consistentes.
A impressão que se tem é que Tite só levou Danilo para passear na Coreia do Sul e no Japão em proveito próprio, para que não digam que já fechou o grupo, que não dá valor a quem joga em times do País, que não da chance a quem merece, enfim, que não é intransigente.
Tite sempre prega o bom senso. Que, desta vez, lhe faltou. Da maneira como agiu, acabou desrespeitando um jogador de grande futuro, um clube e até o futebol interno.