O governador de São Paulo, João Doria, está muito longe de ser desavisado ou desinformado. Portanto, quando ele fala, grosso, que os clubes paulistas não podem jogar no Campeonato Brasileiro antes de encerrar suas participações no Estadual, soa como bravata. Ele sabe muito bem que não tem esse poder. No máximo pode impedir a realização de jogos no território que governa. Mas nada poderá fazer se um clube quiser atuar em outro Estado.
Doria, também, não faz nada à toa. Dessa maneira, sua manifestação traz embutido o objetivo de tentar adiar o início do Brasileiro, algo que agradaria os clubes paulistas, embora estes não admitam - o adiamento também contentaria a Federação Paulista, que justa e compreensivelmente quer terminar seu torneio da melhor maneira possível.
Nunca é demais lembrar que os paulistas, inicialmente, torceram o nariz quando o presidente da CBF, Rogério Caboclo, se disse propenso a iniciar o Brasileirão no fim de semana de 8 ou 9 de agosto. O argumento é que a disputa encavalaria com Paulistão, além do fato de que os clubes estariam em desvantagem física e técnicamente para outros que começaram a treinar e a jogar mais cedo (leia-se Flamengo).
Mas acabaram convencidos de que, nesta altura do não-campeonato - com a crise financeira que a paralisação por causa da pandemia causou -, era melhor retomar o mais rápido possível os jogos, sob um eficiente protocolo de segurança (algo bastante duvidoso, uma vez que a estrada da covid-19 no País ainda está longe de chegar ao trecho de declive). O Corinthians ainda relutou um pouco mais, mas aderiu.
O argumento da CBF de que não dá para invadir muito 2021 com a temporada atual, e por isso não dá para protelar muito o início do Brasil,eiro também tem seu fundamento.
A CBF também convenceu todos os clubes a aceitarem a jogar fora de suas praças, caso as partidas de futebol continuem proibidas em suas cidades e/ou Estados. É o caso atual dos paulistas.
Para Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo e Bragantino, porém, o melhor seria que o Brasileiro não começasse na data programada. Pode até ser agosto, mas se fosse mais para o final do mês, seria possível não só terminar o Paulista - até porque, num raciocínio lógico, pelo menos três deles estariam livres antes da final do Estadual - , como os times estariam mais bem preparados.
Como não vale a pena peitar a CBF, ainda mais nessa época de dificuldade geral, o jeito foi concordar com, ou engolir, a proposta da entidade. O mesmo vale para a federação, que tem como maior interesse agora reativar a disputa que organiza.
Foi aí que o tranco de Doria na CBF se tornou providencial. Não parece provável que seja suficiente para fazer a entidade mudar de posição. Mas não custa tentar...