A iniciativa é vista como "normal". No meio boleiro - e isso se estende a torcedores -, o consenso é o de que não se está a estimular a derrota e sim a vitória. Feio é jogar para perder, alegam jogadores, técnicos, dirigentes, para justificar o envio ou o recebimento desse dinheiro fora do orçamento. Jogar para perder é feio (mesmo de graça), tão feio quanto como receber qualquer tipo de pagamento de um concorrente, seja por triunfo, seja por tropeço.
Não falta quem argumente que a mala branca é o equivalente a um bônus que um funcionário de uma empresa ganha por ter feito bem seu trabalho. Nada contra bônus oferecidos por corporações por objetivos alcançados. Isso serve para estimular seus dependentes. O prêmio é justificável, desde que seja a própria instituição que pague seus funcionários, que lhes acrescente algo ao salário. O patrão dividir lucros com empregados é uma forma de justiça social - todos queremos isso. Esdrúxulo, equivocado, humilhante, estranho, preocupante é obter vantagem financeira de outra empresa.
Vejo muita gente ficar indignada ao se referir à "cor" das malas. A branca é inofensiva, porque se pede para ganhar. A preta é uma afronta, porque o atleta fará corpo mole. Não há distinção alguma entre uma e outra: ambas são suborno. Alguém que preze sua empresa deve trabalhar sempre para honrá-la e esperar que todo tipo de reconhecimento (e de lisura) parta de seus gestores. O que vem de fora é anormal, deve ser rechaçado. No futebol, no entanto, essa prática não fere suscetibilidades, "porque existe mesmo" ...
Certo que todos precisam de dinheiro para viver, para cumprir com seus compromissos. Para tanto, deve-se lutar por salários dignos e jamais esperar incentivos que venham de outra fonte que não seja a do seu empregador. Trata-se de grande hipocrisia ponderar que a mala branca não tem nada de conflitante. Claro que tem, e muito! Quem garante que o jogador que hoje recebe mala branca para vencer, amanhã não vai aceitar mala preta para perder - e dessa forma prejudicar seu próprio clube?
Tem muita gente disposta a vender a honra. E, salvo tubarões poderosos, vende bem baratinho. E ainda vai achar que é normal, sem perceber como está a rabaixar-se.