O Corinthians estaria com a corda no pescoço tão precocemente? Sim, e no Parque São Jorge todos sentem o desconforto, após o escorregão de quarta-feira à noite no Pacaembu - de Andrés Sanchez a Tite, do roupeiro a Ronaldo e seus companheiros. Mas o laço tem folga, dá para livrar-se dele e ganhar fôlego na fase de grupos. Sem alarme. Só depende dos próprios corintianos.
Não existe uma fórmula mágica para safar-se do sufoco, a receita é básica: basta jogar futebol. Fácil, não é? Na teoria, sim. Na prática, a porca torce o rabo. A bola do Corinthians, na largada de 2011, está murchinha de dar dó (ou raiva, dependendo do ponto de vista). O tira-gosto na vitória sobre a Portuguesa, na abertura do Paulistão (2 a 0), enganou muita gente. Parecia que a equipe estava azeitada, para usar expressão que o Toninho Cazzeguai e a turma da boccia do Corintinha do Bom Retiro gostavam.
Os primeiros sinais de que o sofrimento viria ameaçador como as nuvens de fim de tarde em São Paulo surgiram na sequência do Estadual, com os empates por 1 a 1 com Bragantino e Noroeste. O time emperrou nas duas ocasiões, o gás da maioria dos jogadores acabou logo e a torcida ficou a acompanhar de esguelha. A conversa da boleirada e do treinador foi aquela manjada, de sempre: início de temporada, falta ritmo, o calor está insuportável, contra o Corinthians todo mundo faz o jogo da vida (tenho cisma com essa expressão!) e tititi, tititi.
A promessa de vida nova no desafio com os colombianos não passou de retórica. O Corinthians seguiu roteiro idêntico ao dos compromissos domésticos. O Tolima percebeu logo que o diabo não era tão feio quanto pintava e até se atreveu a pôr as manguinhas de fora. Com direito a reclamar de erro de arbitragem, que enxergou impedimento em clara ocasião de gol no primeiro tempo.
Os defeitos acumulam-se. A defesa já não tem a solidez de 2009 e início de 2010, por exemplo. O meio-campo carece de estabilidade - e Bruno César não tem sido o regente que despontou no Brasileiro. O trio de ataque, com Jorge Henrique/Dentinho/Ronaldo, parece ter perdido a pegada e finalizou pouco.
Há sinais de esgotamento no elenco, e não é de agora. A queda se acentua desde a metade do returno da Série A e o que se vê são paliativos. A diretoria mantém discurso pomposo e manda ver no marketing - lança camisas que podem custar R$ 240 reais e não se vexa de cobrar até R$ 500 reais já na pré-Libertadores.
O Corinthians precisa descer do pedestal e suar mais. Assim dá para passar pelo Tolima e pensar em voos altos. Caso contrário, abre caminho para outro ano sem ter nada.
Cretinice. Um jornal de esportes, editado na Catalunha, dia desses fez reportagem em que mostrava o Brasil como "cemitério de elefantes", por repatriar jogadores em fim de carreira, como os Ronaldos, Rivaldo, Belletti e tantos outros que atuaram na Espanha. Mau gosto, ignorância e preconceito caracterizaram o texto. Esses profissionais retornam para casa, para o país de origem, depois de terem feito fama e fortuna na terra que deu ao mundo o gênio de Miguel de Cervantes e o ditador Francisco Franco.
São elefantes que conquistaram os espanhóis com a arte de jogar futebol. O ouro que acumularam veio do talento de seus pés, dos aplausos que arrancaram. Não é bem mais bonito e sublime subjugar populações assim do que por meio da espada, do extermínio, da espoliação, das lágrimas? Prefiro conquistadores como Romário e Deco do que Cortés e Pizarro.
*(Texto da minha coluna no Estado de hoje, dia 28/1/2011)