E Sócrates teve papel importante nessa fase. Ele foi um dos mentores, senão o principal, da Democracia Corintiana, movimento único no esporte brasileiro, em que os atletas tinham voz ativa em decisões que os envolviam. Num tempo em que havia restrições severas à liberdade do povo, os alvinegros davam seus pitacos, exerciam o direito da cidadania.
Houve resistência, tanto por parte do elenco como de cartolas. Nem todos entenderam a proposta e a tomaram apenas como "bagunça, esbórnia, caos". Exageros e erros ocorreram, como em qualquer processo inédito. Prevaleceram, porém, os bons propósitos e a inteligência do Magro a jogar luz sobre seus companheiros. Os boleiros não se preocuparam só com pagode, mas também em engajar-se por ações como as Diretas-Já.
O Corinthians ganhou, o futebol também. Ganhou o Brasil, que começava a buscar o caminho irreversível da democracia. Sócrates foi importante nesse laboratório, mesmo que em seguida tenha partido para aventura frustrada na Itália. Aventura que durou uma temporada apenas. No regresso, jogou aqui e ali, mas não foi mais o mesmo. Nem na Copa de 1986. Pouco importava; já havia consolidado o nome como craque.
Não é por acaso que virou referência no Corinthians e entrou para a galeria dos grandes ídolos da Fiel. Por isso, merece a lembrança - como merecem todos os jogadores que, de fato, marcaram época por onde passaram. O busto do Doutor vai enriquecer o clube e, sempre que alguém parar para admirá-lo, poderá dizer: "Esse foi um brasileiro batuta."
Sorte de quem foi contemporâneo de Sócrates. Nessas horas ter um pouco mais de idade - como é meu caso - soa como privilégio. E como ele faz falta...