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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Clubes são patrões e não donos de técnicos

O futebol muitas vezes caminha na contramão da sociedade. Dirigentes, não por acaso chamados de cartolas, se sentem donos dos clubes. E, por extensão, senhores dos jogadores e dos técnicos. Na visão distorcida de muitos os funcionários são, quase, propriedades; não têm vontade própria, não podem decidir o destino de suas vidas e carreiras sem o aval "superior".

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Por Antero Greco
Atualização:

O caso mais recente dessa mentalidade que remonta aos tempos das capitanias hereditárias, escravidão ou coronelismo, por irônica coincidência, vem do Vasco. Eurico Miranda irritou-se com o Grêmio, que teve a ousadia, o atrevimento, de convidar Doriva para treinar o time, em substituição a Felipão, que pegou o boné no começo da semana.

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O vascaíno não achou correto procurarem um empregado "dele", sem que antes fosse consultado. Tal comportamento demonstraria queda de nível dos colegas gaúchos. Só falta romper relações diplomáticas com o tricolor por tamanho descaramento.

Reação retrógrada e com forte dose de hipocrisia. Doriva é um prestador de serviços da instituição Vasco da Gama. Tem um vínculo que pode ser rompido a qualquer momento por uma das partes. Às vezes, há cláusulas de pagamento de multa. Em outras, simplesmente um diz "tchau" para o outro e a vida segue.

Qualquer estabelecimento pode procurar os profissionais que considera mais aptos a fazerem parte de seu staff. Isso é normal, chama-se mercado. Quantos de nós não recebemos proposta, alguma vez na vida, avaliamos, topamos e mudamos de emprego?

Por que não pode ser o mesmo com um treinador? É justo que o primeiro a ser procurado seja o profissional, não o empregador dele. Depois, se a negociação avançar, se fala com quem se tem vínculo no momento. E pode ocorrer ou não o distrato. Simples e indolor.

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O Grêmio mostrou interesse por Doriva e fez o que é de praxe: apresentou oferta. O técnico não aceitou e não se fala mais nisso. Mas tem de ser decisão do Doriva e não do Vasco.

Temos de parar com essa relação anacrônica e encarar propostas como corriqueiras. E, para terminar: por acaso o clube segura o técnico quando não está satisfeito com o trabalho dele? Jamais. Dá-lhe um pé nos fundilhos e fim de papo. E fica melindrado se a iniciativa parte do outro lado? É muita desfaçatez.

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