Pimba! A aproximação veio na hora: música, futebol e vida se juntaram e desembocaram na constatação óbvia de que tem gente que está no lugar certo na hora certa, ou no lugar errado na hora errada. Dorival e Cristiano personificaram as duas situações que ocorrem a todo momento. Pode verificar que você conhece muitas histórias idênticas.
Dorival dançou miudinho no Atlético-MG até ser defenestrado, um tempo atrás, porque o time emperrou e não saía da parte de baixo do Brasileiro. Ou seja: saiu de BH com a equipe quase na mesma situação em que a encontrou no ano passado. Lembra? Em 2010, foi chamado para apagar incêndio, pois havia risco de rebaixamento. Deu uma revigorada no elenco, evitou o mal maior e se animou com projetos ambiciosos para a atual temporada. Nada deu certo.
Ficou alguns dias de molho e, como a toda hora cai técnico, logo apareceu convite para ajustar o Internacional. Não disputou nem meia dúzia de partidas e se deparou com o desafio de anular vantagem do Independiente na Recopa. Vitória por 3 a 1, com Leandro Damião inspiradíssimo, festa no Beira-Rio e caminho mais sereno para Dorival colocar a turma colorada no prumo no restante da Série A. Quer dizer: calhou de aceitar proposta na hora certa e assim ostenta seu primeiro troféu internacional.
E nem se pode dizer que o time mudou de maneira expressiva de quando estava sob o comando de Paulo Roberto Falcão. Talvez se mostre menos ansioso - ou há mais boa vontade da diretoria. A propósito: Falcão pegou o bonde andando na hora errada e ficou a pé. É o caso do sujeito na hora e no lugar errados. Assim como, me parece, sucede com o Cuca. A não ser que consiga reviravolta daquelas, tem tudo para quebrar a cara no Atlético-MG. Desde que chegou, foram cinco derrotas em cinco jogos. E domingo tem clássico com o Cruzeiro...
O Cristiano Ronaldo, então? Esse deve lamentar diversas vezes por dia a época em que nasceu. O português joga demais, não é fenômeno de marketing nem conversa fiada. É estiloso no visual e nas atitudes dentro de campo. Arrasou no Manchester United, é ponto de referência no Real Madrid. Merece prêmios, medalhas, distinções - o mais importante o de melhor do mundo em 2008.
De lá pra cá, o futebol dele só evoluiu, ficou vistoso e eficiente, para torná-lo sempre protagonista, como nenhum patrício seu jamais foi. Mas Cristiano não consegue emplacar prêmios, se tiver como concorrente Lionel Messi. O argentino leva todas e está com pinta de que não vai parar tão logo de colecionar comendas. Complicado, mesmo para quem é craque, dividir atenção com estrela de altíssima grandeza. Por mais que brilhe, será ofuscado pelo astro maior. Como acontecia na época de Pelé. Era um desperdício de gente boa a desfilar pelos gramados, virtuoses de primeira linha, que no entanto ficavam à sombra do solista, do Rei.
A vida tem dessas ironias. Fazer o quê? Como diz a música: "Sei lá, a vida é uma grande ilusão. Sei lá, sei lá, vida tem sempre razão".
*(Minha coluna no Estado de hoje, dia 26/8/2011)