Na família do grande Didi a explicação para o chute cheio de veneno vem de um problema da infância. O menino Valdir Pereira machucou a perna, quando vivia em Campos, teve problema sério e foi curado pelo benzimento de sua avó. Restou um defeito, um pé menor que o outro. E ele teve de criar um jeito novo de bater na bola.
"Meu pai usava uma chuteira 40 e outra era 41 ... quem amaciava uma das chuteiras era o amigo Zagalo", conta Lia Hebe, uma das filhas de Didi, que mora na Ilha do Governador, no Rio, onde guarda com orgulho o troféu recebido por Didi em 1958, como o melhor jogador da Copa.
Ela acompanhou de perto a carreira do pai. "Eu queria jogar futebol, mas naquele tempo meu pai não quis, disse que não era coisa para menina".
Lia tinha jeito para o esporte, era seca para jogar bola, tanto que seu principal incentivador era um tal de Mané Garrincha, que a ensinava a driblar - sempre que Didi não estava por perto, claro. Lia acabou mesmo jogando tênis. Viajou pelo mundo ao lado da família.
Morou na Turquia, onde o pai era adorado pela torcida do Fenerbahce. Morou no Peru, onde seu pai treinou o Sporting Crystal, e não podia pagar nem pãozinho na padaria. "Ele era idolatrado".
Lia só não estava com Didi na Copa do México, em 1970, quando ele enfrentou o Brasil do banco de reservas. O bicampeão do mundo era técnico da seleção do Peru e o jogo, válido pelas quartas de final, terminou com vitória do Brasil por 4 a 2.
"Nesse dia meu pai chegou a chorar", conta Lia, pois até hoje os peruanos desconfiam que Didi não passou tudo que sabia para seus comandados. "Infelizmente papai carregou essa tristeza pelo resto da vida".
(Com Roberto Salim.)