A seleção perdeu. E Clarissa perdeu o emprego no time dela, o Corinthians-Americana. Por que foi mandada embora? Porque aceitou a convocação do técnico Antônio Carlos Barbosa e se apresentou à seleção.
Você não leu errado: foi isso mesmo. O pior é que o clube alegou abandono de emprego para justificar a demissão.
A questão é a seguinte: os clubes da elite do basquete estão brigando com a inoperante Confederação da modalidade. Por causa dos desentendimentos, houve boicote generalizado, troca de técnicos. Enfim, uma bagunça. Muitas jogadoras tiveram medo de represálias e não se apresentaram, quando saiu a convocação.
O basquete feminino é assim, e só sobrevive por aqui por conta das jogadoras, por causa de gente como Clarissa - atleta excepcional, que começou no atletismo e depois se bandeou para o basquete da Mangueira. Aliás, o basquete do Rio só existe porque Samuel Belarmino, o Sam, toca o barco com inacreditável competência na Vila Olímpica da Mangueira, que fica embaixo do viaduto Cartola. E também porque na capital olímpica existe um técnico chamado Guilherme Vos, que põe dinheiro do bolso para o sonho não virar pesadelo.
Enquanto gente dessa qualidade põe a vida na quadra, os dirigentes são de uma incompetência de doer. E o Comitê Olímpico Brasileiro constrói ginásios para sabe-se lá para quem...
Em um jogo do campeonato carioca de basquete do ano passado, as meninas se esforçavam na quadra da Mangueira. Quando lhe perguntaram se conheciam a arena belíssima, construída para os Pan, responderam que não. Nem jogaram lá. Nem viram qualquer jogo. O novo ginásio olímpico então...
É para isso que serve a Olimpíada? Para que apenas sejam erguidas construções imponentes? O esporte no Rio está à míngua.
E Clarissa está desempregada por uma briga que não é dela. Certamente por pouquíssimo tempo, pois uma jogadora como ela não se encontra em qualquer lugar.
Ela é um diamante negro, desperdiçado por briga política.
(Com Roberto Salim.)