O charme não existe na antiga intensidade, mas resiste. Vá lá que as preocupações atuais sejam diferentes. Os corintianos, por exemplo, tentam se recompor, após a saída de tantos titulares.
O Santos aposta nos garotos e se divide por Ricardo Oliveira. Alguns lamentam que o artilheiro não tenha sido vendido para o futebol chinês. Outros defendem aumento de salário porque ele ficou na Vila Belmiro.
Pouco para um duelo que já parou a cidade, que encantou torcedores. E que faz até hoje o ponta Jonas Eduardo Américo contar em detalhes como foi a jogada mais bonita da carreira.
O ano era de 1972. Depois de um primeiro tempo equilibrado, o Santos de Pelé voltou com tudo na fase final pra cima do Corinthians. Um... dois... três... quatro a zero.
Quantos gols do Rei do Futebol? Nenhum.
E o Rei ainda reclamou com Edu, que não lhe passou a bola ao fazer o gol mais lindo da vida dele. Dos 183 que Edu marcou com a camisa santista.
"Eu falei, 'Ô Pelé, olha onde está a bola'", recorda. Estava no fundo da rede, após encobrir o goleiro Ado, que nem se mexeu. "Recebi a bola e, ao invés de mandar pro gol, dei um corte para trás... Os zagueiros corintianos passaram feito loucos à minha frente e vi o Ado adiantado. Foi só tocar por cima".
Aos 66 anos, o eterno moleque Edu relembra o lance como se tivesse 10 e ainda jogasse pelo Palmeirinha de Jaú. E por que será que ninguém mais faz gol assim? Do alto de sua sabedoria futebolística, dentro do Memorial do Santos, ao lado das fotos e troféus daquele time incrível, responde com simplicidade.
"É que ninguém mais olha para ver onde o goleiro está".
(Reportagem de Roberto Salim.)