A lavada que o Corinthians tomou do Santos, anteontem, na Vila Belmiro, foi de lascar. Não é toda hora que um time grande leva de 5 a 1 em clássico. Por si só, o resultado deixaria qualquer um fora de prumo. Pior, se pode haver algo mais grave, foi o baile! Indesmentível que a rapaziada santista se divertiu. Mesmo sem intenção, deu olé no segundo tempo e não chegou a ampliar porque, em determinado momento, tirou o pé. E o árbitro encerrou a farra aos 45 minutos, sem um segundo sequer de acréscimo.
O desempenho do alvinegro - o paulistano - foi indefensável. Na primeira metade, ainda segurou a onda, ao ir para o intervalo com diferença de apenas 2 a 1. Mas, a partir do terceiro gol, logo após o reinício, a casa caiu. Os outros dois só serviram para aumentar o constrangimento geral, de um lado, e a euforia dos outros alvinegros.
Está bem que foi a quarta apresentação oficial de cada um na temporada. Muita coisa tem para acontecer, etc e tal, com a cautela necessária de sempre. Não se pode achar o Santos favorito ao título, nem que esteja pronto para saltos maiores. Assim como parece injusto decretar destino inglório para o Corinthians. Também seria rematada tolice achar que nada de mais se passou na tórrida noite na Baixada.
Ocorre que o Corinthians apanhou feio - e tem motivos suficientes, agora, para refletir a respeito do que pretende na vida. As topadas violentas podem provocar galos na cabeça (uns cinco, quem sabe?) e, ao mesmo tempo, ensinar a prevenir novos acidentes. Pelo visto, a roupa suja começou a ser lavada, com o silêncio de ontem no Parque São Jorge e com as reuniões longas e a portas fechadas. O tempo fechou.
Mano chegou recentemente, depois de passagem breve e traumatizante pelo Flamengo, e encontrou um Corinthians com autoestima baixa. A trajetória no Brasileiro de 2013 ficou aquém de projeção do mais pessimista, e sequer se imaginou que o elenco esgotasse o repertório depois de ganhar Libertadores e Mundial. Porém, foi o que se viu. Com a base vencedora de 2012, sob o comando do mesmo treinador (Tite), o time limitou-se ao papel de sombra de si próprio. O encanto sumiu, junto com o futebol equilibrado de vários titulares dos episódios épicos.
Mas Mano aceitou a proposta de guiar a moçada, com poucas caras novas e o desafio de resgatar heróis recentes que se ofuscaram de uma hora para outra. Coloquei essa interrogação aqui e, pelo visto, o mesmo sentimento chegou ao técnico e aos dirigentes. Não tem papo de caça às bruxas, tampouco pedir a cabeça de bodes expiatórios. Mas não chegou a hora de encarar a reformulação adiada em dezembro? Melhor fazer isso com o ano fresquinho do que apelar para a ignorância e o radicalismo se o caldo desandar lá na frente.
O jogo com o Santos escancarou a necessidade de mexidas em todos os setores. Trabalho para cartolas, nos investimentos, e para Mano, nos bastidores e dentro de campo. Ele não pode mostrar-se atordoado, como pareceu na Vila. Uma evidência foi a entrada de Pato quando restavam 15 minutos para o apito final.
O placar estava 4 a 1 para o Santos e o centroavante não mudaria nada no panorama vexatório. Sensato seria deixá-lo quieto, no banco, uma vez que não anda com moral com a torcida. Seria uma maneira de preservá-lo e passar-lhe segurança. Se fosse para mostrar serviço, que entrasse alguém para reforçar a marcação. Ok, escalar Pato foi um detalhe, num amontoado de erros. Mas é fundamental ganhar a confiança da tropa.
*(Minha crônica publicada no Estado de hoje, sexta-feira, 31/1/2014.)