Orlando Silva, ministro do Esporte, admitiu que sua pasta trabalha com a projeção de "12, 13 medalhas de ouro". O Comitê Olímpico Brasileiro desconversa e prefere fazer estimativas mais abrangentes: está interessado em ampliar o número total de pódios e não apenas os de primeiro lugar. A meta de curto prazo é superar, em Londres-12, as 15 medalhas conquistadas na Olimpíada de Pequim, dois anos atrás.
Tanto do lado do governo como do ponto de vista do COB, está claro o sentimento de que o importante é não fazer feio como donos da festa. Por isso, a saída é dar dinheiro para que tenham sucesso atletas com real possibilidade de medalhas. O sujeito tem potencial? Consegue bons resultados? Então, terá uma grana para treinar, para participar de competições e para tocar a vida.
A iniciativa seria louvável, sem a carga de imediatismo. O governo resolve incentivar o esporte por causa de um alvo claro, determinado, pontual: os Jogos Olímpicos no Brasil. Nossas autoridades consideram imprescindível deixar boa impressão. Afinal, manda a tradição que o organizador dessa maratona esportiva apareça no bloco principal no quadro de medalhas. O maior sinal de que foi merecedor da honra de receber a Olimpíada. E, mais do que isso, indício de que se preocupa com o esporte.
Sabemos que isso não é verdade por aqui. Não somos uma nação esportiva, infelizmente. Temos tradição no futebol, porque faz parte do nosso DNA. E mesmo assim vira-e-mexe quebramos a cara. Fora isso, nossas proezas em outras modalidades se devem mais a talentos extraordinários, esporádicos, que de vez em quando nos assombram, e menos como consequência de política esportiva permanente.
O governo deveria cuidar do esporte como parte da educação e da saúde do povo. Medalhas, se viessem, seriam desdobramento lógico desse modeo de vida. Os meninos, os adolescentes, os jovens, os adultos deveriam ter condições de praticar esportes para seu bem-estar, e não de olho em Pan-Americano ou Olimpíada. Quadras, pistas, piscinas, campos deveriam estar espalhados em cada canto de nossas cidades, nas escolas, nas universidades. A seleção viria com naturalidade. Daí, sim, os melhores receberiam bolsas, salários e outros incentivos, financeiros ou não.
O Brasil quer medalhas em 2016 e certamente vai obtê-las. Mas temo que perderemos mais uma chance de nos tornarmos, de verdade, um país que leve o esporte a sério e como cultura e educação.