Nilton Santos completou 87 anos na semana passada e há muito luta contra o Alzheimer, mal que corrói lentamente e faz a pessoa flanar em outra dimensão ainda em vida. O elegante craque do passado, símbolo do Botafogo e de lealdade a uma camisa, enfrenta dificuldades financeiras, conforme revelou reportagem de Silvio Barsetti, no Estadão de hoje.
Para diminuir um pouco o aperto, um amigo para o qual Nilton Santos repassou muitas de suas relíquias pessoais anunciou que levará a leilão objetos históricos do ídolo de sempre. Será uma forma de arrecadar dinheiro para dar dignidade aos dias que lhe restam. Tomara que gente de sensibilidade arremate camisas, chuteiras e outros itens. Quem sabe algum museu não se interesse.
Mas o que me levou a este breve comentário foi uma constatação: como é difícil, neste país jovem e emergente, ter uma velhice digna, com condições decentes. O sujeito dedica os anos mais produtivos ao trabalho, faz sua contribuição para a Previdência, na esperança de ter retorno razoável na fase descendente e curtir em sossego um período de calmaria.
Ilusão. Quando mais precisa, vê a renda diminuir de forma drástica e o padrão de vida degradar-se. Nilton Santos jogou bola, teve fama (e não tanto dinheiro quanto boleiros de hoje), conhecimentos e enfrenta dificuldades. Imagine um operário, um dos tantos milhões de anônimos com os quais cruzamos. Que perspectiva terá quando for ancião?
Nossa economia cresce, logo viraremos Primeiro Mundo, mas voltamos as costas para nossos velhinhos.