O episódio é constrangedor e pode ser analisado em diversos aspectos. Entende-se a tensão da família Neymar, porque seus principais representantes são alvos de investigações, na Espanha e no Brasil. Não é agradável ter de explicar-se a todo momento. E, ainda por cima, com a imprensa a incomodar. Imprensa boa é apenas a imprensa amiga, aquela cor de rosa.
Neymar pai pede respeito à privacidade. Ora, esse respeito ele tem, pois nenhum jornalista teve acesso à festa do filho famoso. Os rapazes estavam do lado de fora. E, até prova em contrário, a rua é pública e pode ser frequentada por cidadãos livres.
Duas reações de Neymar pai merecem observação. A primeira: ele sugere aos jornalistas que procurem o que fazer, manda-os "trabalhar". E estavam justamente fazendo o trabalho deles! Pode não ser simpático, pode não ser o mais charmoso do mundo, mas é trabalho.
Como se sentiria o pai de Neymar se alguém dissesse que ele fosse trabalhar, em vez de estar sempre ao lado do filho? Certamente, iria sentir-se ofendido - e com razão. Pois a atividade principal dele consiste em administrar a carreira do filho. É um trabalho, e merece respeito.
O mais chato na investida de Neymar pai, no contato com os jornalistas, foi a maneira como se referiu a uma repórter (que não aparece no vídeo). Ele a chama de "chica" (garota), "guapa" (bonita), de meu amor. Ainda tira o celular e começa a filmá-la.
A moça estava no local como profissional, como qualquer um dos outros colegas dele. Por que a diferença de tratamento? Por que o modo mais "descontraído" ao falar com ela? Por que não usou palavreado idêntico aos demais? Seria mais respeitoso com ela se a xingasse, sem meios-termos, do que se viesse com o tratamento de guapa, chica e afins.
Ele pode alegar que tentou ser delicado com a jovem. No fundo, não a levou em consideração como profissional. Atitude típica de machista.
O futebol é machista; como de resto, a vida.