Mas a maioria que tem de começar a carreira no Brasil vê o caminho construído em cima de resultados enganadores.
Normalmente se confunde vitória com resultado a qualquer custo. Para isso, basta que o adversário seja um ilustre desconhecido ou um "perigoso" argentino.
Nesta sexta-feira, no Mendes Convention Center, em Santos, houve uma das tradicionais noitadas pugilísticas e a grande atração seria a disputa do título latino dos médios, versão Conselho Mundial de Boxe.
A avenida Ana Costa amanheceu com vários cartazes anunciando o combate. Vendia-se ingresso em shoppings e haveria a transmissão pela Sportv.
O brasileiro Yamaguchi Falcão estava animado, pela manhã, ao lado de sua turma - o irmão e o pai, o velho lutador Touro Moreno. Chegaram quarta-feira do Espírito Santo, onde moram e treinam.
Yamaguchi é lutador de 28 anos, que teve carreira muito boa no amadorismo. Chegou a ganhar a medalha de bronze, nos Jogos de Londres - mesma Olimpíada em que seu irmão, Esquiva Falcão, ficou com a prata, em uma derrota discutível para o lutador do Japão.
Esquiva também constrói dentro do boxe profissional uma sólida reputação nos Estados Unidos.
Yamaguchi tem recursos técnicos incríveis: luta como destro e canhoto com a mesma facilidade. Inverte a guarda, soca com a mesma potência com os dois punhos.
Esperava-se uma boa luta contra Jorge Caraballo, mesmo sabendo-se que o argentino tinha cartel sofrível: 5 derrotas e 2 empates em 20 lutas. Em 13 vitórias, só venceu duas vezes por nocaute.
Não foi a sua insossa lista de lutas que decepcionou quem esteve no ginásio.
Triste foi ver que o argentino não era tão perigoso como anunciaram e não era páreo para Yamaguchi, que venceu por nocaute técnico com pouco mais de 40 segundos do segundo assalto. Agora ele soma dez vitórias e continua invicto.
A família Falcão comemorou em cima do ringue, mas ele e o pai sabem que não se forma um campeão lutando contra adversários de mentira.
(Reportagem de Roberto Salim.)