Rivaldo a esta altura da vida poderia dar-se o luxo de curtir aposentadoria, com as glórias e, espero, com a grana que acumulou na carreira. No entanto, teima em manter-se na ativa. Tanto que tem chacoalhado os ossos nos treinamentos do Mogi, seu ponto de retorno e clube do qual é proprietário e presidente. Estava prontinho para entrar em campo pelo seu (e bota seu nisso) time e só não o havia feito ainda porque tem uma pendência com o Bunyodkor, do Uzbequistão, que o impede de inscrever-se na CBF.
À espera do sinal verde da Fifa, para selar a transferência de seus papéis para o Brasil, eis que Rivaldo aceita o desafio de vestir a camisa do São Paulo, a terceira de grandes paulistas paulistas (a primeira foi a do Corinthians). Um convite do amigo Rogério Ceni, uma semana atrás, desencadeou o início de conversações que se acertaram num vapt-vupt. E lá vem o astro de pernas arqueadas, cabelos raros e sorriso tímido disposto a tornar-se ídolo no Morumbi. Por ética e bom tom, deve licenciar-se do comando do Mogi, sobretudo porque a equipe está na mesma Divisão de seu novo empregador.
Em várias ocasiões, falei e escrevi a respeito do momento da aposentadoria de um astro. Minha postura é imutável: trata-se de decisão íntima, pessoal, que cabe apenas ao jogador. Cada boleiro deve ter o bom senso de saber quando chegou a hora de parar. E ela pode demorar por vários motivos. O apelo financeiro para alguns é forte, a necessidade de manter-se na ativa conta para o equilíbrio físico e psicológico de tantos, assim como pesam o interesse e as oportunidades do mercado. Com enormes buracos de talento nos nossos clubes, continua a haver espaço para veteranos com currículo de peso.
Caso de Rivaldo. Arte lhe sobra, transborda inteligência e experiência lhe sai pelo 'ladrão'. Resta agora esperar que o fôlego não o traia e que possa aproveitar esse bis com maestria. Como os grandes músicos, que ele consiga dar inúmeras 'canjas' no São Paulo. Mas que pare, tão logo perceba que pode tornar-se caricatura de si próprio. Tomara que não lhe falte sabedoria e sensibilidade para detectar quando colocar a chuteira numa moldura. Para manter intacto o encanto que nos proporcionou.