Semana de Santos e Palmeiras, na minha juventude, era semana santificada.
Duelos entre Pelé e Aldemar, um dos melhores marcadores do Rei. Não sabem quem foi Aldemar?
Então não têm 60 anos... Adivinhei? Aldemar era elegante se comparado ao seu parceiro de zaga, o Waldemar Carabina.
Uma vez perguntei ao Carabina - já velho e treinador de futebol - se o Viola fizesse "porquinho" na sua frente o que aconteceria. E ele na maior naturalidade: "Viola ficaria de quatro o resto da vida".
O Aldemar não. Era elegante.
Mas teve um Santos e Palmeiras que nem elegância, nem nada. Foi um jogo de 13 gols. Não tinha defesa de Palmeiras ou de Santos que desse jeito. Era gol em cima de gol. E seu Pepe fez três. O penúltimo deles de cabeça: 7 a 6 para o esquadrão santista - 6 de março de 1958.
"A gente voltava de táxi para Santos", relembra o Canhão da Vila. Eram quatro, cinco carros com "chauffer" carregando aqueles jogadores mágicos. Pepe sempre voltava no táxi de um português fuinha, pão-duro que dava gosto: "Ele deixava a gente na Vila Belmiro, não levava ninguém até em casa".
E Pepe precisava pegar ônibus. O jogo tinha sido à noite no Pacaembu. Já era alta madrugada. Pepe, o goleador de um jogo histórico, o artilheiro da partida, o que deixou Pelé para trás naquela noite... na fila do busão.
Finalmente o coletivo chegou e Pepe foi sentar no último banco. Logo foi alcançado por um bêbado. O cara queria conversa: começou falando do inacreditável jogo de algumas horas atrás. "Sete a seis... e o Pepe acabou com a partida". Mesmo com sono, o seu Pepe se animou com a conversa.
"Eu sou o Pepe", apresentou-se seu José Macia..
"Tá bom... e eu sou o Pelé", indignou-se o bêbado, que se levantou e foi sentar em outro banco, resmungando: "Como tem mentiroso neste mundo".
Bons tempos, os de Pepe, Pelé, Carabina e Aldemar que, por sinal, não jogou esta partida - só foi contratado do Santa Cruz no fim daquele ano.