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Aprenda, Capello

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Por Edmundo Leite
Atualização:

De tempos em tempos ele volta à cena e sempre causa polêmica. Na falta de um nome melhor, acaba sendo chamado genericamente de "gesto obsceno". Apesar de simples, o ato de levantar o dedo médio com os outros retraídos tem um efeito devastador. No Brasil, já deu até prisão.

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Ao fazer o gesto para os torcedores do Real Madrid no último sábado, o técnico italiano Fabio Capello arranjou mais uma dor de cabeça e entrou para uma galeria que inclui as mais variadas personalidades, muitas delas do mundo esportivo, como o atacante Romário, o ex-senador e cartola Luis Estevão, o ex-corintiano Fininho e até a mulher do técnico Vanderley Luxemburgo.

No futebol, as histórias quase sempre são parecidas: o dedo em riste aparece como um válvula de escape para momentos difíceis, geralmente provocados por enorme pressão da torcida. Foi assim com Romário, que em 2001 fez o gesto para os torcedores do Vasco que o hostilizavam num jogo com o Universidad Catolica do Chile pela Copa Sul-Americana no Estádio São Januário. E para não deixar dúvida, após marcar o seu gol o baixinho tascou o gesto em dose dupla, levantando as duas mãos com os dedos enrijecidos.

Em 2005 foi a vez do novato Fininho, que num jogo do Corinthians contra o Sampaio Correa pela Copa do Brasil foi até os alambrados do Pacaembu revidar os protestos da torcida, que retribuiu com o mesmo gesto.

A recíproca também aconteceu entre o ex-senador Luiz Estevão, cartola do Brasiliense, e torcedores do adversário Gama num clássico do Distrito Federal em 2003. Do alto da tribuna, Estevão mandava um "duplo-médio" a la Romário para os torcedores do Gama que o atormentavam mais embaixo com dedos em riste e aquele sinal com as duas mãos usado para chamar alguém de ladrão.

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Outro personagem polêmico que enfrentou a hostilidade da torcida com o gesto inominável foi o técnico Vanderley Luxemburgo, em 2000. O gesto, porém, não foi feito por ele, mas por sua mulher Josefa. Na época, além de desembarcar no Brasil com o peso do fracasso da seleção brasileira na Olímpíada de Sydney, o técnico era alvo de inúmeras denúncias de irregularidades fincanceiras. Para evitar o assédio da imprensa e dos torcedores no tumultuado desembarque, Luxemburgo entrou rapidamente em um carro acompanhado de sua mulher. Pela janela do banco de trás, Josefa foi fiel ao estilo do marido e mandou o dedo ao alto. Na recente eliminação do Brasil na Copa do Mundo, o gesto mudou de lado e acabou virando o símbolo da frustração dos torcedores que estavam na Alemanha.

Crise diplomática

Fora do campo esportivo, o gesto também costuma causar confusão. A maior delas foi a protagonizada pelo piloto americano Dale Robbin Hersh, que em janeiro de 2004 mostrou o dedo médio enquanto tirava foto de identificação na área de desembarque do Aeroporto de Cumbica. Os agentes da Polícia Federal consideram o ato de deboche do piloto um desacato e o caso ganhou status de conflito diplomático. Isso porque o Brasil passara a exigir identificação dos americanos que entravam no País alegando reprocidade, pois esse era o tratamento dispensado aos brasileiros que iam aos Estados Unidos após o endurecimento das medidas antiterror.

O gesto provocou grande indignação no Brasil e o piloto da American Air Lines teve que pagar R$ 36 mil de multa para ser solto. Dia depois, um outro americano repetiu o gesto no aeroporto de Foz do Iguaçu e teve que pagar R$ 50 mil para ser liberado. No ano passado, a American Air Lines foi condenada em primeira instância a pagar R$ 175 mil por danos morais para cada um dos sete agentes federais que trabalhavam no desembarque.

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Em abril do ano passado foi a vez do diretor de teatro Gerald Thomas usar o gesto para protestar durente um ato de apoio a Varig: "Lula, aqui para você", disse o diretor após falar sobre o que considerava descaso do governo com a companhia aérea em crise. Como era de se esperar, deu em nada. Sabiamente, Lula nem ligou.

Os que usam o dedo médio para expressar os seus sentimentos deveriam aprender com o grande mestre Johnny Cash, que ensinou que para fazer isso com dignidade é preciso estar por cima e, mais que isso, ter absoluta certeza disso. Foi o que aconteceu em 1996, quando foi à forra depois de ser premiado como Melhor Álbum Country pelo fabuloso disco Unchained. Do alto de seus então 64 anos de sabedoria, Cash pagou um anúncio de página inteira na BillBoard, a principal revista de música do país, para agradecer o apoio recebido das rádios e do meio musical de Nashville, a meca do Country, que haviam ignorado o disco. Aprenda, Capello.

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