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Marta: California Dreamin'

O americano pouco sabe sobre nós brasileiros. Em quase 20 anos de convivência com a cultura yankee, fui vítima da ignorância alheia. Como bom brasileiro, eu sempre encontrei um jeito de lidar com tais situações e ganhar meu espaço, e, de certa forma, desmistificar o estereótipo que os americanos construíram em suas mentes a nosso respeito. E talvez isso faça com que eu me sinta tão maravilhado ao ver uma brasileira de Dois Riachos ser a atração principal de um treinamento de futebol, o "nosso esporte", em Los Angeles. Marta não só encanta seus compatriotas, mas atrai a admiração e o respeito de qualquer pessoa. Com um sorriso contagiante, a meia conversa com todos que a abordam. Seja um assessor de imprensa, jornalista, ex-jogador ou fã.

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Por miltonpazzi
Atualização:

Tive a oportunidade de conversar com a craque durante minha passagem pelos Estados Unidos na cobertura das Finais da NBA. Ela é, sem dúvida, especial. Não digo isso somente pelo seu futebol, o que fica mais evidenciado num treino ordinário, mas sim pelo seu jeito de ser. Marta atrai a atenção, causa instigação e uma certeza de que nosso planeta não tem mais espaços para fronteiras culturais.

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Durante nossa conversa, Marta mostrou que continua sendo a mesma que, anos atrás, sonhava em ser uma estrela no esporte que ama. Mesmo sendo o chamariz da WPS (Women's Professional Soccer), e três vezes a melhor do mundo pela Fifa, a brasileira mantém costumes simples e não se vislumbra com o estrelato. Algo muito raro.

Além disso, vejo nela o exemplo perfeito para o americano nos enxergar. Longe de qualquer característica física, já que somos uma nação miscigenada, cada um com sua própria descendência. Mas pelo o que ela representa: perseverança e otimismo.

Voltando ao treinamento do Los Angeles Sol, Marta era imperceptível no meio de quase 30 atletas. Mas era só traça a origem de um lançamento desconcertante para saber seu paradeiro. Fiquei mais de uma hora acompanhando o treino, realizado no complexo esportivo do Home Depot Center, estádio localizado em Carson, onde Sol, Galaxy e Chivas jogam, analisando cada passe, finalização e instrução que Marta realizada. Era um deleite para qualquer fã do futebol.

Ao final do treinamento, fixei ainda mais meus olhos em Marta. Queria ver como ela se comunicava com o elenco e com os jornalistas. Conseguia ouvir uma palavra ou outra em inglês durante as mímicas da brasileira. Mesmo sem saber muito da língua inglesa, a meia não encontrava problemas para se comunicar. Inclusive concedeu uma entrevista muito bem humorada para um repórter do Los Angeles Times, que foi ao treino de bermuda, camiseta e um par de sandálias Havaianas, e que parecia muito empolgado com o churrasco brasileiro, servido em alguns restaurantes da cidade californiana.

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Após tal entrevista, Marta se aproximou e, meio sem jeito, se apresentou a minha pessoa. O primeiro assunto foi o Corinthians. Ela estava empolgada com a campanha da equipe na Copa do Brasil e confessou que torcia muito pelo sucesso de Ronaldo. Até brinquei com ela sobre a idéia de um dia jogar ao lado dele na equipe paulista. Ela não me respondeu, mas ficou uns 10 segundos com o olhar em outra galáxia imaginando a possibilidade.

Foram uns 56 minutos de conversa gravada com a melhor jogadora do mundo. Em alguns momentos os chavões futebolísticos ditavam suas respostas; em outros ela deixava de lado as respostas prontas e conversa como uma velha amiga.

Corinthians, Los Angeles Sol, vida nos Estados Unidos, família, tietagem e objetivos alçados numa carreira vitoriosa com apenas 23 anos de idade. Tudo isso foi abordado com naturalidade pela jogadora, mas algo mexeu muito com ela: a seleção brasileira. Marta mostrou certa preocupação com o futuro da seleção, que agora conta com o técnico Kleiton Lima, que reformula o elenco vice-campeão do mundo e olímpico. Senti nela uma inquietação por não ter vencido tais competições. Mesmo com tudo o que já conquistou, Marta ainda foca seus objetivos na seleção. Ouso a dizer que nossa Copa do Mundo será em 2011, na Alemanha.

Acredito que percorri uns 60 metros, talvez 70, ao lado de Marta em direção aos vestiários do Home Depot Center. Chegamos à escadaria de acesso e ali terminava minha jornada. Agradeci pela oportunidade. Afinal, conversara com a melhor do mundo. Marta sequer pensava nisso. Apenas sorriu e perguntou quando sairia a matéria a seu respeito no Estadão, e desceu as escadas abraçada ao Mike (o assessor), dando risada e curtindo sua vida na Califórnia. Ela merece.

Leia o texto na íntegra clicando aqui

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