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O peso de um golzinho

Se a memória não me trair - e ela costuma me iludir mais do que pessoa pérfida -, numa entrevista pouco antes da Copa de 1994 Carlos Alberto Parreira afirmou que gol era um "detalhe". O técnico tetracampeão do mundo levou um vareio de críticas por causa dessa constatação, então considerada uma ode ao retranquismo. Mas não é que tinha razão? Só nesta quarta-feira, houve três jogos decisivos em que a danada da bola na rede fez diferença mastodôntica.

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Por Antero Greco
Atualização:

Vou pela ordem cronológica. No começo da noite, no gramado devastado do Estádio Centenário, o Palmeiras sentiu como pesou o golzinho que levou do Nacional, quase no fim do duelo travado três semanas atrás no Parque Antártica. O empate de 1 a 1 em casa e a incapacidade de fazer um golzinho em Montevidéu jogaram o Palestra paulista na vala comum dos desclassificados. Adiós, Libertadores!

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Já o Grêmio, no Olímpico,um pouco mais tarde se beneficiou do golzinho marcado contra o Caracas, da homônima cidade venezuelana, na igualdade por 1 a 1. Deixou suas redes intactas, mas saiu de campo com a vaga assegurada para a semifinal continental.

Decisivos também os dois golzinhos que o Corinthians lascou pra cima do Internacional no Pacaembu. A bola levinha colocou toneladas de responsabilidade sobre os ombros gaúchos para o clássico de volta, no dia 1º, no encerramento da Copa do Brasil. O Inter pode tomar como exemplo o Sport, que em 2008 também caiu diante do Corinthians, na primeira parte da final. Mas existe diferença marcante entre esses jogos: os pernambucanos fizeram um golzinho na derrota (3 a 1). O detalhe tão pequeno, como cantaria o rei Roberto, permitiu ao Sport faturar o título com 2 a 0 na volta.

O Inter precisa ganhar por 3 a 0 para ficar com o título no tempo normal. Ou 2 a 0 para empurrar tudo para os pênaltis. Cá entre nós, a primeira hipótese é missão difícil. O Corinthians não perdeu por diferença de 3 golzinhos em nenhum de 110 jogos sob o comando de Mano Menezes. Mérito de sistema defensivo eficiente, com participação equilibrada de zaga e meio-campo. Em segundo lugar, porque tem Ronaldo - o que não é pouco. Aliás, é muito.

O Fenômeno zanzou pelo gramado como quem não queria nada, se fingiu de morto, deu uma voltinha, quase parou para um cafezinho. Em dois lances, quando a zaga do Inter havia esquecido de sua presença letal, deu o ar da graça. Na tentativa inicial, apareceu de repente, na cara do gol e Lauro fez defesa antológica. Na segunda, arrancou depois do Índio, chegou antes, cortou pra dentro e fez o golzinho que lacrou o resultado. Desconcertou o adversário e cumpriu parte da promessa do dia anterior: a de que iria "emagrecer" dois quilos, que em sua linguagem significa marcar duas vezes. "Nunca duvide da palavra de um gordinho", me disse com conhecimento de causa Paulo Amigão Soares, companheiro do todas as noites na ESPN.

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Eis outra diferença gigantesca: o Corinthians tem um definidor acima da média, que desata nós mesmo fora de forma. O Inter não teve, mesmo com o louvável esforço de Taison e Alecsandro. Muito menos teve o Palmeiras, com Keirrison de novo assustado e Obina a desperdiçar duas benditas chances. Depois dizem que Ronaldo (assim como Romário) faz golzinhos fáceis. Fácil pra quem sabe. Quem não sabe, volta pra casa cheio de explicações pro fiasco: a grama irregular, o frio, a torcida rival, o cansaço, o cisco no olho, a gripe, a dor lombar. A bola...

* Esta coluna é publicada todas as sextas-feiras no jornal 'O Estado de S. Paulo', na seção 'Boleiros'

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