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Histórias, lugares e provas

Autobeli sonha alto

A assessoria de imprensa Assessiva (bom nome para uma assessoria) nos informa que Altobeli Santos da Silva está próximo de assinar com a Arpa, associação de corrida de Rio Preto (o nome completo é Associação Rio-pretense Pró-Atletismo/Smel/Flex/Empório Natural). O portal do Estadão fez uma matéria sobre o Altobeli em julho, e aproveito o ensejo para republicá-la neste prestigioso espaço. O corredor que leva nome de atacante italiano dos bons foi o segundo melhor brasileiro na São Silvestre (atrás do Giovani dos Santos) e oitavo no geral. Ex-entregador de panfletos se cansa de caminhar e vira fenômeno em corridas de rua

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Por Alessandro Lucchetti
Atualização:

matéria de Alessandro Lucchetti (08/07/2013)

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Altobeli Santos da Silva, obviamente, recebeu seu nome graças a uma homenagem a Alessandro Altobelli, um dos atacantes da seleção italiana que conquistou a Copa de 82. O que ninguém sabia - nem ele mesmo - é que o fundista de 23 anos é também um "matador". No último domingo, Altobeli venceu a Meia Maratona da Cidade do Rio, com o tempo de 1h04min02. O corredor de Catanduva deu fim a um jejum de vitórias brasileiras na prova - a última havia sido conquistada em 2008. Os corredores africanos vêm dominando essa prova, assim como muitas outras do calendário nacional.

Altobeli é uma figura relativamente desconhecida no cenário do pedestrianismo. Seus tempos não eram nada impressionantes - quase 30 minutos nos 10 mil em pista e 1h07 na Meia Maratona. Há cerca de um mês, treina na equipe Pé de Vento, em Petrópolis - que já teve em suas fileiras Ronaldo da Costa, Luiz Antônio dos Santos, Franck Caldeira e Giovani dos Santos - e seus resultados melhoraram espantosamente.

Foi de uma necessidade premente que nasceu o interesse de Altobeli pelo atletismo. Ele distribuía folhetos de ofertas de supermercados de porta em porta. Em suas perambulações, viu uma faixa que anunciava que o prêmio de uma prova de 10km era uma moto. Sonhando com a possiblidade de entregar os folhetos motorizado, Altobeli se inscreveu prontamente. "Perguntei ao meu chefe se um cara que andava o dia todo teria preparo físico para vencer uma prova de 10km. Mesmo sem entender nada do assunto, ele disse que sim, e eu acreditei".

O panfleteiro adulterou então a data de nascimento em seu RG, pois ainda não tinha completado 18 anos, a idade mínima para poder correr.

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Obviamente, Altobeli, que nunca havia treinado na vida, não conseguiu vencer, mas também não fez feio. "O pessoal que ganhou ficou a uns 300m ou 400m à minha frente. Fui embora desanimado e procurei um bar para comprar um refrigerante. Lá um amigo meu me encontrou e falou que o meu nome estava sendo anunciado nos alto-falantes".

Altobeli voltou ao local da prova, mas já haviam desmontado o palanque. Ele fazia jus a uma medalha como quinto melhor catanduvense - nada mau para um iniciante.

Quando foi buscar a medalha na prefeitura, dias depois, Altobeli encontrou um professor de educação física, Guilherme Salgado, disposto a treiná-lo. Sem saber, seus dias de panfleteiro estavam acabando. "Não aguentei treinar e depois andar o dia todo distribuindo papel", diz Altobeli, que depois arrumou um emprego mais "leve" - no transporte de mudanças.

Depois de ver seus tempos estagnarem, Altobeli deixou Catanduva, e os resultados estão aparecendo. No final do mês passado, venceu a prova do Circuito da Longevidade Bradesco Seguros, em São José do Rio Preto. Bateu, sem grande dificuldade, o tanzaniano Nelson Priva Mbuya, que vinha fazendo estragos nas provas nacionais.

Espantado com o progresso de seu pupilo, Henrique Vianna, chefe da Pé de Vento, está empolgado. "Ele desponta, desde já, como uma das grandes esperanças do atletismo brasileiro para os Jogos de 2016".

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"Meus resultados estão melhorando de forma assustadora. Como ainda tem muito tempo até 2016, acho que posso sonhar, se não com uma medalha, pelo menos com classificação para a final dos 10.000m", diz Altobeli.

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