Ainda criança, Bikila tem de se refugiar nas montanhas da Etiópia, evitando o rápido período de ocupação dos italianos. Perde os pais, se afasta da família e, depois de doze anos como estrangeiro em sua própria terra, começa a se tornar ídolo de todo um continente.
Mas quis o destino do etíope, como em tantas outras ironias da vida, que sua primeira viagem de avião, sua primeira competição internacional e sua primeira grande conquista fossem no caminho para Roma. Nos Jogos Olímpicos de 1960, justamente na capital italiana, Bikila dispensou o apertado par de tênis para correr descalço os 42 quilômetros da prova. Venceu. Um feito que despertou a África para o domínio nas provas de longa distância.Não contente, em Tóquio 1966, repetiu o feito, desta vez, devidamente calçado - o que deve ter sido então uma moleza.
O declínio do campeão, do recordista, começou na Cidade do México 1968. Não ficou com o ouro e foi considerado acabado para o esporte. Ainda assim, insatisfeito com a aposentadoria, ele quis "prolongar a vida de um cavalo cegado" que encontrou no meio de uma estrada e tentava se preparar para o recomeço, ainda que aos 41 anos, em Berlim 1972. Ficou paraplégico antes, em um acidente com seu Fusca, na mesma estrada em que não abreviou o sofrimento do animal com a arma que carregava do exercício de guarda imperial. Com força de vontade, arriscou outros esportes e reconquistou a confiança e o respeito de seu povo.
Entre imagens de arquivo e cenas que exploram o brilho sem igual do sol da Etiópia, a narrativa mistura passado e presente com uma simples viagem de ônibus. Ao contrário dessa tentativa de resenha, o efeito se dá naturalmente. Retrata com louvor uma história de coragem, desafios, política e esporte. Dá vontade de sair a Correr por aí e conhecer novas Etiópias logo ao passar pela porta do cinema.
FICHA TÉCNICA
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