Aqui venta bastante, o tempo todo, e o piso do acampamento é de areia fina. O pessoal que tem vários ralis na bagagem usa óculos especiais para proteger os olhos da areia fina.
Há também quem improvisa e opta pelos óculos de pilotagem, iguais aos que utilizo para correr. Sem eles, seria impossível andar pelo acampamento.
Se aqui tem vento e poeira, na etapa cronometrada de hoje, a situação estava bem mais complicada entre Iquique e Calama. Como eu larguei na 51ª posição, já que na véspera tive problemas com o radiador da minha moto, que explodiu, foi bem perigoso o dia.
Ultrapassar era um voo cego na nuvem de poeira. O mais difícil era passar os quadriciclos, que fazem tanto pó quanto os carros. Quem me deu trabalho foi o polonês Rafal Sonik, que já correu várias vezes no Brasil no Rally dos Sertões. Fiquei mais de 100 quilômetros atrás dele. Só consegui passá-lo quando ele errou o caminho e saiu da rota original.
Outro inimigo foi o "fesh fesh", que é uma areia bem fininha que mais parece talco. Além da poeira, ela esconde buracos, pedras e outros obstáculos na pista. E hoje, o que não faltou foi isso. Fazer ultrapassagens na poeira e com o piso "fesh fesh" é muito arriscado.
Falta pouco para terminar o rali e estou traçando a estratégia para levar minha CRF 450 Rally até Buenos Aires, local da chegada do Dacar.
Maratona
E nesta quarta-feira, temos mais desafios pela frente. Vamos para outra etapa maratona até Cachi, onde não poderemos ter apoio mecânico. Nós mesmos, pilotos, devemos fazer a manutenção nos veículos. Espero que tenhamos um dia melhor do que a maratona em Uyuni, na Bolívia. Foi uma etapa para esquecer, pois deu tudo errado naquele dia.
Falta pouco. Continuem na torcida! É o Brasil no Dacar!
* Jean Azevedo é piloto da equipe Honda South America Rally Team e tem 17 participações no Rally Dacar. Ele corre com uma moto CRF 450 Rally.