Fabiana Ecclestone: Levamos uma vida mais simples do que as pessoas pensam.

25/XI/13 São Paulo

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Por liviooricchio
Atualização:

Olá amigos! Passada a correria dos dias do GP do Brasil podemos voltar a nos comunicar no blog. Vou responder a todos os comentários, só preciso de providenciar alguns encaminhamentos aqui na redação e na vida pessoal.Entrevistei aqui em São Paulo Fabiana Ecclestone, esposa do grande responsável pela Fórmula 1. Eu a conheço há uns 12 anos, desde que começou a trabalhar na equipe do GP de Interlagos. O texto que produzi para a edição de domingo do jornal apresento a seguir. Abraços.

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O texto:

O recepcionista do hotel já estava orientado. "Quando o repórter do Estadão chegar, peça por favor para subir ao nosso quarto." Plim, soa a campainha da suíte do casal. "Welcome", diz Bernie Ecclestone. Ele próprio abriu a porta e recebeu, com simpatia, o jornalista. A suíte é ampla. Na realidade, um apartamento grande e decorado de maneira funcional, como aprecia o inglês.

Fabiana Ecclestone se apresenta. O marido tem um tablet na mão. Completamente à vontade, ambos convidam o repórter para se acomodar na sala. A conversa inicial é sobre São Paulo, o shopping de onde acabaram de chegar e, claro, o GP do Brasil. "Eu não conhecia o Cidade Jardim, levei o Bernie lá hoje", diz Fabiana.

Antes de desembarcar no Brasil para a corrida de Interlagos, Fabiana e o marido percorreram o mundo. Foram recebidos por reis - como Juan Carlos, na Espanha - príncipes, a exemplo de Albert Grimaldi, de Mônaco, presidentes e primeiros ministros, além de empresários muito bem sucedidos, amigos de Ecclestone, ele próprio dono de uma das maiores fortunas da Grã-Bretanha. Fabiana sorri.

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"Eu larguei a condição de vice-presidente de marketing do GP do Brasil, depois de cursar as faculdades de Comércio Exterior e Direito, para o que vivo hoje", diz, deixando no ar a impressão de também apreciar muito a nova realidade.

"Mas minha vida mudou menos do que as pessoas imaginam. Claro, viajo muito. Como esposa do Bernie tenho a oportunidade de conhecer pessoas superinteressantes, em cada lugar que vou aprendo coisas novas, me desenvolvi em outros idiomas, inglês, espanhol, italiano..." Esse contato com as maiores autoridades das nações levou Fabiana a ter de estudar algumas questões protocolares.

Ecclestone havia se retirado para uma sala do apartamento. O combinado era entrevistar a esposa. Espera um intervalo da conversa, educadamente, e se aproxima. "Fabiana, me ajuda a acessar a internet." Voltando ao repórter, movimenta as mãos como quem diz não dominar ainda o uso dos tablets. Restabelecida a conexão, Bernie deseja bom prosseguimento ao jornalista e volta para a sala em que estava.

Mal acostumada

O fato leva Fabiana a mencionar que ela e o marido não têm uma legião de funcionários de prontidão para servi-los. "O comportamento do europeu é diferente do brasileiro, eu era mal acostumada. Tinha uma pessoa que passeava com o meu cachorro, cuidava da minha roupa, ia ao supermercado para mim. No Brasil esses serviços estão entre os melhores do mundo. O europeu é muito self service."

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No grupo de relacionamento de Ecclestone há pessoas milionárias. "Mas você vai na casa deles e vê uma máquina de lavar louça na cozinha. No nosso caso temos um aspirador que aspira sozinho e volta à base. Você para o carro na rua, não tem manobrista, não tenho um exército de pessoas a meu dispor. Sou eu que faço e desfaço as minhas malas."

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Diz ter, sim, uma pessoa que a ajuda. "Ela também mora na Inglaterra e cuida dos meus quatro cachorros quando viajo. São três Yorks e um Shih Tzu."

Ecclestone é um homem de hábitos simples. "Quando estamos na nossa casa em Staad, na Suíça, vamos ao supermercado, costumamos ir ao cinema, permanecemos nas filas, comemos pipoca, como todo mundo."

Como forma de demonstrar que ambos têm prazer em levar uma vida normal, Fabiana conta que foi fazer um curso de culinária. "Eu trabalhava bastante na época do GP do Brasil e não tinha tempo. Não sabia fritar um ovo. Agora recebo amigos do Bernie, como o Flavio Briatore, e meu frango com presunto parma e recheio de queijo faz sucesso. Não passamos mais fome (ri)."

A filosofia de simplicidade de Ecclestone se estende para tudo, até para suas preferências gastronômicas. "Ele gosta de olhar o prato e saber o que está comendo. Vamos às churrascarias em São Paulo ele come basicamente de tudo. Mas não o vejo saboreando uma feijoada, é sofisticado para o Bernie."

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A casa dos dois em Londres também não tem nada de extravagante, mas a exemplo do que exige na Fórmula 1 Ecclestone parece necessitar de tudo absolutamente organizado. "É verdade, o meu marido com essas coisas é sempre muito atento." Os caminhões da FOM Communications devem ser estacionados nos autódromos lado a lado, rigorosamente emparelhados, e a numeração das placas deve seguir a ordem crescente. Não pode haver falha.

O homem que fez da Fórmula 1 um evento mundial se aproxima novamente. Está relaxado, usa quase sempre camisas brancas de mangas compridas. O seu marido é carinhoso? "Não gosto de falar dessas coisas, são muito pessoais. Mas não posso tirar a credibilidade dele de bravo." Ciumento? "Ciumento no sentido de qualquer pessoa que ama e gosta de alguém, mas não é possessivo."

Tino para negócios

Na infância, Ecclestone vivia numa casa onde não havia água corrente, segundo descreveu Tom Bower no livro biográfico do líder da Fórmula 1. Começou vendendo carros e motos usadas, bem jovem ainda, até passar a empresariar pilotos, como Jochen Rindt, assumir a condução da Fórmula 1 e criar um império.

"Eu o admiro muito. É inteligente, tem enorme sensibilidade para lidar com os assuntos... sua rapidez, dinamismo. É uma pessoa precisa. Vamos ser honestos, são poucos os que conseguem ter a habilidade que ele possui. Eu digo sempre que ele mente para mim. Não pode ter 83 anos. Tem menos. Nunca o vi triste ou preocupado. Não consigo imaginá-lo aposentado."

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A relação de Ecclestone com o dinheiro é particular. A explicação de Fabiana é surpreendente. "O sucesso financeiro é decorrente do sucesso profissional, o que de fato mais lhe interessa. Bernie tem prazer em fazer negócio e sentir que eles deram certo. Isso o deixa feliz. Não é uma pessoa atraída pelo dinheiro, como imaginam. Não controla o que eu gasto. Até porque queria ter comprado um sapato no shopping e depois de ouvir o preço desisti, embora pudesse levá-lo."A forma de fazer negócio do marido sensibiliza Fabiana. "Seus acordos são feitos com um aperto de mão. A palavra é suficiente, admiro muito isso."

Café brasileiro

O casal tem uma fazenda produtora de café em Amparo, no interior de São Paulo. "Ganhamos o prêmio de melhor café da região. Estou focada no lançamento da marca do nosso café." Bernie Ecclestone empresário no Brasil? Os produtores devem se preparar para enfrentar forte concorrência, porque o homem que comanda a Fórmula 1 quando se propõe a fazer algo é para valer.

Na despedida, o casal e o repórter combinam de se encontrar em Interlagos no dia seguinte. Ecclestone aproveita o gancho: "Espero sinceramente que agora melhorem o autódromo de verdade, porque faz tempo que passamos por dificuldades lá."

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