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Por liviooricchio
Atualização:

Até que enfim alguém enxergou um pouco mais longe. Gerhard Berger, sócio da equipe Toro Rosso, chamou o francês Sébastien Bourdais para testar seu carro, o lento modelo deste ano, entenda-se, para os testes de quarta, quinta e sexta-feira, agora, em Jerez de la Frontera.

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Até hoje nunca compreendi até mesmo Bernie Ecclestone não intervir para que ao menos dessem uma chance de testes a esse competente francês de 27 anos. Falo em Ecclestone porque a França não tem representante, hoje, na Fórmula 1. Franck Montagny disputou algumas provas na Super Aguri, é verdade, mas em razão de a FIA retirar a superlicença do japonês Yuji Ide.

Pode até ser que Bourdais acabe não correspondendo ao que seu retrospecto extraordinário de piloto sugere que irá ocorrer em Jerez, mas as possibilidades de ele comprovar o que muitos profissionais do automobilismo esperam dele é bem maior. Bourdais é daqueles casos que ninguém entende por que não está na Fórmula 1.

Como já escrevi aqui, não existe regra para se afirmar este ou aquele irá se dar bem na Fórmula 1. Não fazer muito sucesso nas categorias de formação não quer dizer que sua carreira na Fórmula 1 será a extensão das competições que o levou até lá. Assim como ganhar tudo nas categorias de base não garante sucesso na principal disputa do automobilismo.

Bourdais, no entanto, reúne todos os elementos para ser um bom piloto na Fórmula 1. Quanto é impossível saber. Começará a responder já quarta-feira. Fórmula 1 é um desafio distinto de todos os demais. Técnico, pela velocidade de reflexo e conhecimento dos recursos do carro exigidos, e psicológico, gerado pelo imenso investimento realizado e as decorrentes pressões por resultados.

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Repito: ainda que não seja lei, o passado de Bourdais é de chamar a atenção. Por exemplo: ele conquistou os três últimos campeonatos da Champ Car, pela equipe Newman-Haas, e na sua temporada de estréia, em 2003, começou já sendo vice-campeão. No ano anterior, dominou o campeonato da Fórmula 3000 e foi campeão.

O vi correr diversas vezes. Sempre me causou ótima impressão. É por demais eficiente.Veloz, regular, inteligente, mas tudo num nível bastante elevado. Venceu por onde passou. Antes de chegar à Fórmula 3000, foi campeão da Fórmula 3 francesa, em 1999, e vice da Fórmula Renault em 1997.

Mostrou qualidade também com protótipos, ao terminar em quarto as 24 horas de Le Mans de 2000, pela equipe de Henry Pescarolo, atrás apenas dos três carros da poderosa escuderia da Audi. Curiosamente, Bourdais nasceu lá mesmo, em Le Mans, dia 28 de fevereiro de 1979.

Berger já compreendeu não poder esperar muito de Scott Speed, ao passo que confia em Vitantonio Liuzzi. Ainda que Dietrich Mateschitz, proprietário da Red Bull e sócio de Berger na Toro Rosso, deseje manter Speed no time, por acreditar que Speed possa ajudá-lo a incrementar a participação do energético Red Bull no mercado dos EUA, Berger não o quer como titular.

Bourdais pode não confirmar na Fórmula 1 suas muitas virtudes e Berger ser obrigado a engolir Speed, por conta dos interesses de seu sócio, mas se Bourdais for rápido, não errar muito, demonstrar os mesmos dotes técnicos que o levaram a ser tantas vezes campeão, a França voltará a ter um representante na Fórmula 1 e, provavelmente, dos bons.

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O que mais pesa contra Bourdais são os três últimos anos na Cart. A velocidade de reação do carro é mais baixa que na Fórmula 1. E o francês está há 4 anos na Cart. Outro fator é o freio. Na Cart os discos são confeccionados com aço, ao passo que na Fórmula 1, em fibra de carbono. Este é bem mais eficiente. Antes de pensar em registrar tempos de causar sensação, terá de adaptar-se ao que o carro da Fórmula 1 cobra do piloto.

Mais: Bourdais necessitará estudar a cartilha técnica, para entender os muitos recursos disponíveis no carro. Sem saber explorá-los não conseguirá ser veloz. Ao final do último dia de testes ficará mais clara sua capacidade de adaptação. Seria bom para a Fórmula 1 se continuasse ao menos com parte da série de ótimos resultados na Cart.

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