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GP do Brasil de F-1 num novo autódromo, em Guarulhos. Possível.

Por liviooricchio
Atualização:

04/V/07 Hoje o secretário de esportes de Guarulhos, o jovem e competente Júlio Filgueiras, passou o cargo a José Alberto Saraiva Fernandes. Não seria notícia de ganhar manchetes se no encontro não estivessem o ministro dos Esportes, Orlando Silva, e o prefeito do município, Elói Pietá, do PT. Fui até lá. Por quê? Em razão da existência do projeto de se construir um autódromo de nível internacional em Guarulhos.

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Será que sai mesmo? Essa deve ser a pergunta que você está se fazendo. Eu também questiono. Confesso que cheguei à cerimônia reticente, apesar de conhecer, ainda que à distância, o foco, idealismo e a determinação de Júlio Filgueiras, do tempo em que era secretário de esportes de São Paulo e antes, chefe de gabinete da Nádia Campeão, a quem aprendi a admirar.

Saí de Guarulhos acreditando existir mesmo possibilidade de o negócio dar certo. Não será fácil, mas há interesse, pré-disposição de todos e uma série de coincidências felizes. Mais tarde explico.

Ano passado uma comissão foi formada para estudar a viabilidade de se construir um autódromo em Guarulhos. Durante 180 dias técnicos e representantes dos segmentos interessados no projeto realizaram a pesquisa. Os dados serão, em breve, disponibilizados à imprensa, falou o solícito prefeito.

"Indicam ser bastante viável", disse ontem o ex-secretário, agora o responsável pela Secretaria Nacional de Esporte Educacional, no Ministério dos Esportes, de seu companheiro de PC do B, Orlando Silva.

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O duro foi aguentar o discurso de personagens como a deputada federal Janete Pietá, do PT, e do vice-presidente da Câmara, Jonas Dias, representantes de uma classe política anacrônica e inócua cuja maior capacidade é falar, falar e não dizer nada. Que tristeza!

O próximo passo do processo, nos contou o prefeito, é formar a comissão que irá detalhar o projeto. Orlando Silva foi claro: "A bola está, agora, com a prefeitura." Ele aguarda o projeto para dar sequência, ou seja, levantar os fundos que lhe cabem na história.

"1/3 virá do setor público, 1/3 do privado e 1/3 do privado sob concessão", explicou Júlio. Falou da área de 1,3 milhões de metros quadrados entre as rodovias Ayrton Senna e o aeroporto de Cumbica, de fácil acesso, baixa densidade populacional, definida para receber a obra, já inspecionada por uma pessoa da FIA. Comentou ter gostado do que viu.

O prefeito, objetivo e sincero, abordou a questão de, se construído, o autódromo tirar a Fórmula 1 de São Paulo. "Interlagos tem imensos problemas e nós estaríamos oferecendo uma alternativa. Muita gente da nossa cidade também vai para São Paulo, trabalham lá, é natural que aqui também recebamos gente de São Paulo."

Elói Pietá mostrou-se otimista quanto ao projeto decolar: "Se você é da cidade, desconfia, não? Mas não estamos sozinhos." A tal das coincidências felizes que citei, referem-se à impressionante arrecadação de Guarulhos, maior de várias capitais do País, a existência de terreno da própria prefeitura, ao que se sabe, para o autódromo, e os homens públicos que decidem, no município e no governo federal, pertencerem ao mesmo partido ou comungarem da mesma filosofia ideológica.

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Tamas Rohony, promotor do GP do Brasil, estava na cerimônia e foi claro: "Temos contrato com a Prefeitura de São Paulo até 2009 e certamente estaremos lá. Depois disso dependerá de como o processo seguir seu curso."

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A Prefeitura de São Paulo investe cerca de R$ 27 milhões no GP do Brasil de Fórmula 1 todo ano. Não para pagar despesas do evento, mas para tornar possível Interlagos receber a competição. São obras de atualização da pista, reformas nas instalações gerais e montagem de arquibancadas, dentre outros gastos. Se o autódromo sair e a Fórmula 1 for para Guarulhos, o que com certeza acontecerá, como se comportará a Prefeitura de São Paulo?

Caio Luiz de Carvalho é o presidente da SPTuris, empresa da prefeitura responsável pelo Autódromo de Interlagos. Ele comenta a notícia: "Se o projeto sair será bem vindo. São Paulo benefecia-se da mesma forma." É uma postura política. Possivelmente na sua intimidade não compreende bem a postura do Ministério dos Esportes.

"Seria bem mais barato para o governo federal investir na modernização de Interlagos", afirma. Defende a iniciativa de Guarulhos, mas com ressalvas: "Tem toda validade, desde que o investimento seja privado."

Independente de São Paulo receber verbas federaispara Interlagos, o que não ocorre, a prefeitura está investindo em melhorias no autódromo. "Construiremos já para este ano uma arquibancada fixa para 8.500 lugares em frente aos boxes, o hospitality center definitivo, além do total recapeamento do circuito. Para 2008 está prevista a expansão da área de paddock, um dos problemas de Interlagos."

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Depois lembra que recentemente foi confirmada a extensão do ramal ferroviário até o autódromo, assim como está prevista no futuro a passagem do metrô por lá. "Agora, se construírem mesmo em Guarulhos, vamos aguardar o que acontecerá com Interlagos. Terá de encontrar seu caminho", comentou Carvalho.

Se tudo der certo e Guarulhos construir seu autódromo, corremos o risco de Interlagos transformar-se em novo Jacarepaguá, abandonado pela prefeitura do Rio antes das obras do Pan.

Temos de torcer para Interlagos passar a exercer bem mais funções sociais de hoje, como a criação de escolas técnicas sob a área das novas arquibancadas, previstas no projeto da prefeitura, e o aproveitamento racional de sua área de 1 milhão de metros quadrados para construção de um parque a ser utilizado pela população carente da região fora dos período de treinos ou corridas, o que certamente se estenderá no caso da existência de Guarulhos.

Outros usos estão em estudo também. Só essa ocupação intensa de suas instalações é que garantirá investimentos da prefeitura na sua manutenção. O calendário de eventos esportivos tende a cair bastante. Mas calma, apesar de ser possível Guarulhos ter o seu autódromo, não será fácil e tampouco ocorrerá em curto espaço de tempo.

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