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Por liviooricchio
Atualização:

A Grand Prix Manufactures' Association (GPMA)deixou de ter razão para existir. Sua predecessora, a Grand Prix World Championship (GPWC), surgiu para criar a sombra de um campeonato próprio, que a ninguém interessava. Servia apenas para mostrar a uma única pessoa, Bernie Ecclestone, que, numa situação extrema, poderiam, sim, levar a idéia de deixar a Fórmula 1 e organizar um Mundial próprio, tudo igual ao da Fórmula 1, apenas com outro nome.

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E qual a razão da ameaça? Simples: dinheiro. Há uma frase desgastada do presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo, mas que reflete com precisão o que acontecia com a Fórmula 1: "Não faz sentido o senhor Ecclestone e seus sócios, os bancos, ficarem com 53% do que nós geramos e nós mesmos termos de dividir 47%." O que isso quer dizer? Ecclestone, na época, 2005, detinha 25% da holding que comercializa os direitos da Fórmula 1, Slec, principal fonte de receita gerada pela competição.

Slec vem de Slavica Ecclestone, a esposa do dirigente que dia 29 de outubro completará 77 anos de idade. Os outros 75% eram de propriedade de e bancos: Bayerische Landesbank, JP Morgan e Lehman Brothers. Valores comentados recentemente dão conta que a Slec arrecada, por ano, só com venda dos direitos de TV, algo próximo de 1 bilhão de dólares.

Ecclestone retirava o que representa custo de manutenção da Slec, à qual estão associadas a Formula One Administration (FOA) e a Formula One Management (FOM), e distribuía o restante. Como? 53% entre si próprio e seus sócios, de acordo com a participação na Slec, e os demais 47% entre as equipes de Fórmula 1, segundo sua classificação no campeonato de construtores na temporada anterior, basicamente.

Hoje a Slec não mais pertence a Ecclestone e os bancos. Em novembro de 2005 e depois em março do ano passado, uma empresa de nome CVC Captal Partners comprou a participação de todos na Slec. A CVC é especializada nisso: compra e gerência de grandes empresas.

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Dá para falar em valores recebidos pelas escuderias até ano passado. A Ferrari, por exemplo, supercampeã em 2004, recebeu cerca de US$ 50 milhões. Investiu naquele ano, porém, perto de US$ 350 milhões. A diferença veio da Philip Morris, principal patrocinador, bem como os demais, a Fiat, maior sócia da Ferrari, e da própria empresa produtora de carros de alta performance. Em outras palavras, mesmo tendo vencido quase tudo, ainda assim os proprietários das equipes eram obrigados a investir muito dinheiro todo ano.

Foi contra esse estado de coisas que as montadoras se indignaram. Mas Ecclestone não criou essas porcentagens aleatoriamente. Representam o acordado entre elas próprias e Eclestone em 1997, quando estenderam por 10 anos o Acordo da Concórdia, que termina no fim do ano.

Depois de sinalizar sempre que não aceitavam mais os valores que recebiam, daí a ameaça do campeonato paralelo, as montadoras finalmente chegaram a um acordo com Ecclestone. Antes disso, o inglês já havia estabelecido um valor para a Ferrari, tirando-a da associação da GPMA. Em novembro do ano passado todas acabaram assinando um documento aumentando o Acordo da Concórdia até o fim de 2012. Concordaram com o oferecido por Ecclestone.

Uma quantia antecipada para as montadoras da GPMA, como os US$ 100 milhões que repassou à Ferrari, e participação bem maior no arrecadado pela Slec, a partir de agora, garantiram a paz na Fórmula 1. As porcentagens são desconhecidas, mas aquela proporção de 47% divididos dentre todos os times, descrita por Montezemolo, faz parte do passado. Comenta-se que é bem mais.

E faz sentido acreditarmos ser verdade. Ecclestone não é mais o proprietário da Slec, mas seu diretor-executivo. Sua principal receita é, hoje, outra: a promoção de algumas etapas do campeonato, onde eventos como os da China, Bahrein e Turquia lhe rendem, apenas como taxa paga ao promotor, cerca de US$ 20 milhões por edição.

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Foi pelo objetivo de receber mais para disputar a Fórmula 1 que a Renault reuniu-se com as demais montadoras para criar a GPMA e pressionar Ecclestone. Uma vez que suas reivindações foram parcialmente atendidas, no acordo oficializado em novembro do ano passado, não faz mais sentido prosseguir numa associação só com as montadoras. Tem mais lógica pensar em conjunto com as demais 10 equipes. Foi o que a Renault fez.

A Toyota havia feito o mesmo. Restam, agora, na GPMA, apenas a Daimler Chrysler, dona da marca Mercedes, BMW e Honda. Mas é por pouco tempo. A existência da GPMA deixou de ter sentido.

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