Honda, agora sem Gil de Ferran. Não sabe o que perdeu.

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Por liviooricchio
Atualização:

16/VII/07

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Quando Gil de Ferran foi anunciado como diretor-esportivo da Honda, no GP de San Marino de 2005, disse a mim mesmo que se a equipe japonesa lhe desse poder de decisão, com toda certeza cresceria. Gil é um dos profissionais mais capazes com quem convivi em autódromos. Excelente piloto, tinha como grande característica, também, possuir uma visão global do automobilismo, que inclui elevado conhecimento técnico.

Foi essa competência que se estende além das pistas que garantiu o prosseguimento da sua carreira, em 1995. Gil havia disputado a Fórmula 3000 pela equipe de Jackie Stewart, na temporada anterior, com vitórias, e necessitava de patrocinadores para chegar à Fórmula 1. Não tinha. Ocorre que em 1991 Gil realizou notável trabalho para a Reynard no Campeonato Britânico de Fórmula 3, pelo time Edenbridge.

Quase todos os pilotos competiam com chassi Ralt, como o campeão, Rubens Barrichello. Mas o modelo da Reynard, desenvolvido por Gil, mostrou dispor de potencial muito maior. No ano seguinte, nunca a Reynard vendeu tanto carro e, claro, foi campeã com o mesmo Gil, na escuderia do filho de Jacke Stewart, Paul Stewart.

Em 1995 a Reynard estava de olho no campeonato da Cart e o primeiro nome que veio à mente de Adrian Reynard para ganhar o mercado norte-americano foi o de Gil de Ferran. Estreou na categoria recebendo salário, sem nunca ter disputado uma prova da Cart sequer, graças à confiança que a Reynard tinha nele. Correu pela Jim Hall, o mesmo dos lendários Chaparral. Venceu corrida já no primeiro ano.

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O que desejo dizer é que foi a capacidade de Gil como piloto e profissional bem dotado para desenvolver o carro que lhe garantiram a sequência da sua carreira, no fim de 1994. O restante quem gosta de corrida de carro sabe: Gil foi bicampeão da Cart e venceu as 500 Milhas de Indianápolis, dentre outras conquistas.

Estamos na Fórmula 1. Gil nunca abriu a boca para me contar nada. Eu lhe fazia perguntas, às vezes até quando estávamos a sós, em aeroportos, como este ano, por exemplo, em Abu Dabi, e ele sempre foi extremamente político. Mas percebi este ano, em especial, que estava de saco cheio de ver tantas decisões equivocadas e não poder agir.

Refiro-me diretamete a Nick Fry, o diretor-geral da Honda, e na minha e na de muita gente na Fórmula 1, o maior responsável pelo fracasso da organização japonesa. O confronto entre o que Gil desejava implantar na Honda e a cabeça dura e despreparada de Fry levaram Gil deixar o grupo. O mais incrível é que sábado da prova de Silverstone, agora, há pouco mais de uma semana, batemos o maior papo no motorhome da Honda e não tive um único sinal de que ele poderia deixar o time. Gil estava lá com a esposa Angela e os dois filhos.

Lamento pela imagem deixada por ele na Fórmula 1. Não é boa. O que dói é saber que sua responsabilidade nesse processo de falta de resultados da Honda é mínima. Sua filosofia é de fechar com o grupo. Estreou na Honda quando estourou o escândalo dos dois tanques e a escuderia acabou suspensa por duas etapas. Apesar de ver tantos erros, tantas decisões que nem de longe seriam as suas, sempre deu a entender, em público, estar por detrás de tudo. Solidariedade.

Talvez se tivesse se debelado a história fosse outra. Teria saído de lá antes, verdade, mas ao menos as pessoas saberiam que alguém que sabe o que diz estava contestando os rumos equivocados definidos para a Honda. Hoje, por sempre sugerir apoiar tudo, o que ganhou? `Provavelmente a dispensa da equipe e uma imagem desgastada na Fórmula 1. Sua inteligência, conhecimento, experiência e lisura não foram utilizados na Honda. Espero que outros profissionais do automobilismo conheçam a verdade por trás do fracasso de sua passagem pela Honda. O automobilismo necessita de homens como Gil de Ferran.

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