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Montadoras e FIA em pé de guerra

Por liviooricchio
Atualização:

17/X/08 GP da China Livio Oricchio, de Xangai

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Às vésperas da corrida que pode apontar o campeão do mundo da temporada, representantes das equipes de Fórmula 1 e o presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley, entraram em alerta vermelho: uma nova guerra entre as duas partes parece iminente. A FIA distribuiu comunicado, ontem, abrindo concorrência para a produção de motor e transmissão a serem adotados por todos os times já em 2010, como medida de contenção de custos. "É uma piada", afirmou uma fonte da BMW. "Há risco de as montadoras abandonarem a Fórmula 1", declarou Martin Whitmarsh, diretor da McLaren-Mercedes.

Terça-feira, em Genebra, os membros que compõem a Formula One Team Association (FOTA), Mosley e o promotor do Mundial, Bernie Ecclestone, vão se reunir para discutir um pacote de ações visando a tornar a participação no campeonato muito mais econômica. A crise financeira mundial atingiu a Fórmula 1 como uma bomba de efeitos devastadores. Escuderias como Ferrari e McLaren, que disputam o título no GP da China na próxima madrugada, investem cerca de US$ 400 milhões por ano na Fórmula 1. "O orçamento dos times, hoje, é totalmente incompatível com a realidade da economia do mundo", argumenta Mosley. "Ou tomamos medidas duras agora ou o grid da Fórmula 1 terá, em breve, 13 carros já que três equipes correm risco de deixar a competição por falta de recursos financeiros", explica o dirigente.

O assunto do dia, ontem no paddock do circuito de Xangai, foi a nota emitida pela FIA. "A Fórmula 1 historicamente existe por causa da competição entre as montadoras que aqui estão. Acabar com isso é, num certo sentido, procurar acabar com a própria Fórmula 1", disse Steve Nielsen, coordenador da Renault. Diante do choque provocado pela notícia de que entre 2010 e 2013 todos vão correr com o mesmo motor e caixa de marchas, Mosley lançou um esclarecimento no fim da tarde: "Esses equipamentos podem ser produzidos pelas próprias escuderias".

A idéia é conceber um motor que responda com potência semelhante à atual, na casa dos 700 cavalos, capaz de suportar várias corridas sem substituição, e estabelecer que o projeto seja exatamente o mesmo para todos. O motor e o câmbio seriam produzidos por uma empresa contratada pela FIA, vencedora da concorrência, como fez com a central eletrônica de gerenciamento, hoje utilizada por todos e construída por uma empresa do grupo da McLaren. Quem desejar pode construir o motor e o câmbio, mas "segundo o projeto original da FIA em todos os detalhes" especifica a nota. O campeão do mundo de 2005 e 2006, Fernando Alonso, comentou a decisão de Mosley: "Com os mesmos motor e pneus os pilotos serão valorizados, mas será ruim para a Fórmula 1. Renault, Ferrari, BMW todos desejam construir seus motores".

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Oficialmente não há uma posição das representantes dos times. "Vamos discutir a questão terça-feira em Genebra, não dá para adiantar nada agora", falou Luca Colajanni, da Ferrari. O fundador da mais tradicional organização da Fórmula 1, Enzo Ferrari, já reprovava os rumos da competição quando a aerodinâmica passou a ser o principal componente da performance do conjunto. "A aerodinâmica existe para quem não sabe fazer motor", defendia. Como seria hoje se o Comendador estivesse vivo e lhe dissessem que a Ferrari receberá um projeto de motor e terá de executá-lo segundo exatamente o que a FIA deliberar?

Ecclestone não acredita que as montadoras vão deixar a Fórmula 1 por causa do motor e câmbio unicos para todos já em 2010. Numa concorrida entrevista no início da noite em Xangai, o dirigente falou: "É o que elas (equipes) desejam, não?", questionou. "Estamos ajudando-as a economizar muito dinheiro, não vejo razão para elas deixarem a Fórmula 1", afirmou. Há uma tendência de as montadoras presentes na competição, Ferrari, McLaren-Mercedes, BMW, Renault, Toyota e Honda, não aceitarem a medida imposta por Mosley. E nesse caso as consequências são imprevisíveis.

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