Ross Brawn: Não há nenhuma conspiração contra Rubens.

12/V/09

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Por liviooricchio
Atualização:

Olá amigos:

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A primeira vez que conversei pessoalmente com Ross Brawn foi no meu primeiro GP como jornalista profissional, no Rio de Janeiro, em 1987. Ele era o projetista da Arrows e eu free lance de um jornal que não mais existe, mas que na época era muito forte em São Paulo, o Shopping News, com cerca de meio milhão de exemplares aos domingos.

Escrevia para o suplemento de automóveis chamado Auto Motor News, editado por Ronaldo Leme, irmão de Reginaldo Leme. Lembro-me de Ross Brawn, pacientemente, me mostrar no seu carro o posicionamento do câmbio, transversal a longitunal.

Desde então, sempre cruzei com ele nos autódromos. Ross Brawn é muito profissional. Na sexta-feira, agora em Barcelona, disse-lhe que estava tentando agendar com sua assessora, Nicola Armstrong, uma entrevista. Cheguei a lhe pedir para, se possível, intervir, a fim de viabilizá-la. Acredito que foi o que aconteceu. Quando abri meus e-mails, ontem, ao desembarcar em São Paulo, lá estava o recado de Nicola: "Livio, Mr. Brawn will talk to you today, at 17h30". Conversamos um bom tempo por telefone.

O texto da entrevista é o a seguir, publicado na edição desta quarta-feira no Estadão. Procurei fazer as perguntas que boa parte dos que se interessam por Fórmula 1 faria.

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Dois dias depois da polêmica vitória de Jenson Button no GP da Espanha, o proprietário e principal estrategista da equipe Brawn GP, o inglês Ross Brawn, mandou ontem uma mensagem aos brasileiros que gostam de Fórmula 1 nessa entrevista exclusiva ao Estado:"Não há nenhuma conspiração contra Rubens. Tenho certeza de que ele vencerá várias corridas este ano."

Muita gente que acompanha as transmissões da Fórmula 1 está convencida de que Rubinho foi preterido na Brawn GP, domingo, como ocorreu no seu tempo de Ferrari. Afinal, liderava a competição no Circuito da Catalunha e tinha duas voltas a mais de autonomia de gasolina que Button antes do primeiro pit stop. Ou seja, a vitória estava nas suas mãos. Mas Ross Brawn mudou a estratégia do piloto inglês, de três para duas paradas, e Button venceu pela quarta vez. Rubinho foi segundo.

Boa parte dos brasileiros acredita que você interveio na disputa para Jenson Button ganhar a corrida. O que você diz?

Infelizmente, essa foi a imagem que ficou, embora a realidade seja outra. Como já expliquei, a condição da prova nos mostrou que para Rubens, na liderança, três pit stops funcionariam, e até agora penso assim, mas para Jenson, atrás de Rubens, não. Sairia dos boxes atrás de Nico Rosberg, enquanto Rubens conseguiu ficar na sua frente depois do primeiro pit stop. A outra ameaça a Jenson era Sebastian Vettel, pois eu acreditava que ultrapassaria Felipe Massa no primeiro pit stop, era mais rápido e tinha mais gasolina, e teria pista livre para chegar em Jenson.

Quem decidiu a mudança?

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A decisão foi minha. Recebi informações de nossos engenheiros e concluí que assim funcionaria melhor para Jenson. A estratégia de Rubens não precisou ser revista porque tudo atendia, até então, o planejado, não havia fatores colocando-a em risco.

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Por que Rubinho só foi avisado de que Button mudou de três para dois pit stops depois de ele fazer sua parada, o que poderia lhe dar a chance de mudar também a estratégia?

A escolha da estratégia é da equipe, não do piloto. Somos nós que temos a visão global da corrida. O piloto deve concentrar-se na condução, apenas em condições especiais eles decidem. Depois do primeiro pit stop, Rubens ainda estava em condições de ficar na frente de Jenson. Como já disse, ele perdeu a corrida porque seus tempos pioraram com o terceiro jogo de pneus, depois do segundo pit stop. Esse foi o fator novo, não anunciado até aquela altura.

O que aconteceu para, de repente, passar a ser 3 ou 4 décimos mais lento do que Button, enquanto era mais veloz até então?

Temos apenas algumas razões possíveis. Aqueles pneus tinham mais voltas que os dos outros jogos. No total, eram 6 diante de 3 dos demais. Com aquele jogo, Rubens havia feito uma saída na segunda parte da classificação (Q2) e uma na terceira (Q3). Mas nossa expectativa não era de queda tão grande. Outro fator foi a perda de um pedaço da carenagem, na parte posterior do carro, mas não comprometedora também. E vimos, ainda, que o chassi tocava o solo com mais força por causa da pressão um pouco mais baixa dos pneus, que precisamos entender. A telemetria mostrou que Rubens não conseguia ser rápido porque o carro se tornou instável, saía muito de frente.

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Muitos pensam que sua equipe é inglesa, Button é também inglês e por isso foi favorecido.

Não há preferência no time. Nossa situação econômica é bem delicada e preferi Rubens a outros pilotos com atrativos comerciais altamente interessantes. Fiz isso por admirar Rubens. Somos amigos, colegas, como queiram, há 10 anos. Conspirar contra ele seria conspirar também contra seu grupo de técnicos que, como ele, quer ganhar do grupo de Jenson. A disputa é limpa, justa. Adoraria ver Rubens e seu grupo ganharem uma corrida, seria até importante para a nossa própria equipe. A única coisa que pedi até hoje a Rubens e Jenson é que não se toquem, não se coloquem para fora da pista.

O que você diria aos brasileiros que desconfiam da sua isenção?

Entendo sua paixão pela Fórmula 1, é a mesma de Rubens e da minha. O que aconteceu com Rubens não deixa de ser uma lição para nós, que talvez tenhamos de considerar ainda mais fatores na hora da estratégia. Trabalhei 10 anos numa equipe latina, sei o que é essa paixão. Tudo na equipe é aberto, transparente. Nos tempos de Ferrari era assim. Ele sabia daquela política nada popular. Portanto, antes da corrida, conhecia as regras. Mas vejo Rubens, agora, 100% à vontade no grupo. Adora o que faz. Ele tem uma grande oportunidade de se dar muito bem este ano. Tenho certeza de que Rubens vencerá várias corridas.

A Ferrari diz que não disputa o Mundial de 2010 se as regras impostas pela FIA não forem revistas. Você vai se inscrever?

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Os ânimos estão muito acirrados, há muita emoção no ar, mas no encontro dos próximos dias da Fota com Max Mosley e Bernie Ecclestone encontraremos uma solução. Concordo com a idéia de uma limitação de orçamento. Sem isso, times independentes como o nosso não vão sobreviver. A Fota está unida, apesar de tudo o que aconteceu, temos consciência de que essa é a melhor maneira que temos de conquistar o que defendemos.

Quem ganha a final da Copa dos Campeões, o seu Manchester United ou o Barcelona?

Infelizmente não vou poder ir ai estádio, como adoraria. A equipe tem consumido todo o meu tempo, cuido de tudo. Mas assistirei pela televisão, em casa, na Inglaterra. Acho que vai ser um jogo aberto, de muitos gols. Meu palpite é de que seremos campeões e o placar vai ser Manchester United 3 Barcelona 2.

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