Sou torcedor do Massa

12/X/10

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Por liviooricchio
Atualização:

Alguns comentaristas questionam o que tenho contra Felipe Massa, em razão, principalmente, da última coluna, em que defendi a perda de cinco posições no grid no GP da Coreia do Sul, por ter provocado o acidente que tirou ele próprio e Vitantonio Liuzzi, da Force India, da corrida de Suzuka. Nesses anos todos de convivência nos autódromos com Massa, o pequeno grupo de jornalistas brasileiros que cobre a Fórmula 1 veio a conhecê-lo melhor. E para quem tem essa oportunidade não há como não desejar o bem de Massa. Ele e sua família são pessoas de uma simplicidade rara. Sinceros, solícitos, atenciosos, é comum nos reunirmos nos circuitos para gostosas conversas, a respeito de tudo. Massa, Rubens Barrichello, Bruno Senna e Lucas Di Grassi são personagens de nosso dia-a-dia no período de atividade da Fórmula 1 nas pistas ou salas das companhias aéreas nos aeroportos ou ainda em eventos promocionais. O fato de sermos todos de São Paulo também ajuda a estreitar essa relação, crescemos todos na mesma cidade, nossos valores não são conflitantes.

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Ainda que esse relacionamento se limite, essencialmente, ao universo jornalista-fonte de informação, não há como não existir um sentimento de apreço aos quatro e aos que os cercam. Sua luta, cobrança, seu desafio são maiores do que a maioria dos fãs da Fórmula 1 imagina. E como jornalista é antes de qualquer coisa um ser humano, fico tenso nas largadas. Se acontece um acidente, procuro de imediato identificar quem está envolvido, torcendo, primeiro, para que não seja um dos quatro.

Da mesma forma, quando realizam belo trabalho, sinto uma sensação de felicidade dentro de mim. Não digo nada a ninguém, estou expondo esses sentimentos aqui por nutrir por esse espaço imenso carinho. Quando mudarem a mecânica de organização dos blogs no Estadão, em estudos, poderemos dedicar maior tempo ao projeto. Voltando aos nossos pilotos. Deu para ver, portanto, que do ponto de vista pessoal, Massa, Rubinho, Bruno e Lucas contam com torcedor, bastante discreto, é verdade, no paddock, na sala de imprensa e nesses GPs da Ásia, agora, diante da TV. Amigos, como é desconfortável não estar no evento para quem está acostumado há 20 anos com essa rotina.

Tudo isso, no entanto, não pode me impedir de expor o que penso, sempre com muita responsabilidade e bastante atento para não ser leviano, pois tenho consciência das consequências, dos desgastes que geram notícias divulgadas sem fundamento, como é assustadoramente comum na mídia. O exemplo mais comum, hoje, é a saída de Massa da Ferrari em 2011.

Para me chocar é preciso muito, mas quando você ouve nos meios de comunicação, como tenho visto nesses dias, que a Ferrari o substituirá por Robert Kubica, Kamui Kobayashi ou Adrian Sutil, provoca até raiva. Como é possível a cidadãos cuja fonte de informação é exclusivamente a Internet afirmar de forma cabal tal coisa. Que inconsequência!" O pior é que para milhões aquilo acaba virando verdade e você ouve as pessoas abordarem o assunto como se fosse algo consumado ou em vias de ocorrer. Observo isso aqui no blog. Postura presunçosa, por vezes, de alguns comentaristas, diante da inconsistência ou inexistência de argumentação. Puro "achismo"!

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Massa vive um momento difícil. Todos sabem. Mas é pontual, relativo a este ano. A razão já virou motivo de zombaria até, mas em boa parte procede. Os pneus desta temporada, com o fim do reabastecimento de combustível, são muito mais duros que os da época em que os carros deslocavam na maior parte do tempo massa (grandeza física, por favor)bem inferior a atual.

O fato, repare que não falo em hipótese, mas fato, levou Massa ser mais lento que Fernando Alonso, ainda que, na minha visão, mesmo em condições normais o espanhol seria ao longo da temporada cerca de alguns centésimos de segundo mais veloz. Ver Alonso ser mais rápido regularmente e responder melhor aos desafios das corridas, por também ser um piloto mais completo, está agora, na fase final do campeonato, ao que parece, desestabilizando Massa.

Colabora muito para isso, ainda, a cobrança da Ferrari para auxiliar Alonso (entenda-se a Ferrari) ser campeã. Um dos pontos fortes de Massa é lidar bem com a pressão. Mas o Massa que vimos em Suzuka sugeriu sentir o golpe da cobrança da Ferrari já na classificação, quando não foi além da 12.ª colocação. O tráfego argumentado por ele para explicar o resultado fraco não me parece proceder, a disposição na pista de Robert Kubica, da Renault, sem estar na volta lançada, não penso que justifica totalmente o ocorrido.

Depois, na largada, Massa arriscou tudo, para recuperar as posições perdidas na definição do grid. Deve ter ficado no inconsciente de Massa a necessidade de se colocar no bloco dos primeiros, junto das McLaren, pelo menos, afinal o modelo F10 demonstrou com Alonso poder vencer Hamilton e Button. E na tentativa de ultrapassar vários adversários, Massa avaliou mal as consequências de sua reação bastante agressiva. As possibilidades de dar errado e comprometer sua prova, como aconteceu, eram bem maiores do que ele sair da curva 1 em sexto ou sétimo.

Não desejo com minha interpretação, por cortesia, ser presunçoso. É como enxergo o comportamento de Massa no GP do Japão nas duas disputas, o treino classificatório e a prova, domingo. E este é o espaço para expor minha leitura dos fatos.

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Mas como já escrevi aqui, 2011 começa tudo do zero. Carro novo, concebido sob outro princípio aerodinâmico, difusor simples e não duplo, pneus Pirelli em substituição aos Bridgestone, aerofólio traseiro móvel, a volta do sistema de recuperação de energia (Kers)... são variáveis enormes e que irão condicionar um conjunto de reações distinto dos de hoje por parte dos pilotos e das equipes.

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 Não seria prudente afirmar que o próximo Mundial vai começar como terminará a temporada em curso. Os desafios são outros. O que agora é desfavorável a Massa, pelas razões expostas, poderá tornar-se favorável. Ou, ainda, potencializar mais a diferença dos predicados de piloto entre Alonso e Massa.

Quem tem um mínimo de consciência de como as coisas se processam na Fórmula 1 não pode afirmar o que irá acontecer em 2011. Apenas que Massa dispõe, na Ferrari, de nova oportunidade para mostrar sua capacidade. E, por favor, senhores, sem essa história de que é segundo piloto, de que o banco Santander manda na Ferrari e impõe preferências para Alonso ou, ainda, que Massa será substituído se perder de novo a disputa para o companheiro de equipe. Isso só poderá ocorrer se o campeonato de Massa, em 2011, for um grande fracasso, o que não creio que será o caso.

Escrevi muito, amigos. Estou na redação do Estadão e tenho de pensar na edição de amanhã. Arrivederci!

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