A queda do Botafogo à Série B do Campeonato Brasileiro, com uma rodada de antecedência, é uma daquelas situações facilmente enquadradas no "eu já sabia!". Era óbvio e inevitável, dado os erros de planejamento e de condução da crise que assolou o clube na competição neste ano.
Mas o Botafogo não foi só vítima de erros administrativos, falta de planejamento ou de escolhas técnicas equivocadas. Não! O Botafogo também fez e faz parte do cenário de desarticulação que atinge anos após ano o futebol do Rio.
Desde que os campeonatos estaduais começaram a perder a lógica de existência, alguns tradicionais clubes começaram a sofrer um verdadeiro desmonte. No Rio, o Bangu foi o primeiro a sentir o golpe, seguido rapidamente pelo América.
Com o aprofundamento desse cenário, claro que os grandes clubes do Estado também se viram no meio do turbilhão. Fluminense, com quedas dentro de campo à Série B, Vasco da Gama, rebaixado duas vezes e Botafogo, agora também com dois carimbos de Série B no passaporte, não escaparam ilesos à realidade.
O fato é que a pouca competitividade dos campeonatos regionais impede a captação de recursos dos clubes nos primeiros meses do ano, o que atinge o nível técnico do jogo e se reflete diretamente nas bilheterias.
Então, era uma questão de tempo para que as grandes forças do futebol brasileiro também sentissem o tranco. E quem não se organizou tão bem sofreu mais, como o Botafogo.
Tanto que até outro dia neste 2014, o Botafogo disputava a Copa Libertadores de América... E até outro dia em 2012, o clube anunciava a contratação de um ídolo mundial, Clarence Seedorf.
O Botafogo, assim como tantos outros grandes clubes, não soube se organizar no momento da bonança financeira. E agora que o momento é de apertar os cintos além dos furos já existentes, faltou-lhe competência.
Competência que não pode deixar de existir neste momento. O Botafogo precisa olhar com cuidado o que aconteceu com o Vasco da Gama na segundona deste ano.
Dos quatro classificados à Série A, somente o Vasco tinha um elenco repleto de nomes conhecidos e que mesmo assim não funcionou lá muito bem. O restante foi formado por jogadores veteranos de algum nome, mesclado a garotos bons de bola.
Mesmo no banco, dos quatro, só Vasco e Avaí possuíam nomes nacionais quando o assunto é treinador. Joel Santana e Geninho, respectivamente, dispensam apresentação. Já Hemerson Maria do Joinville e Guto Ferreira da Ponte Preta estão no início de suas caminhadas.
Portanto, além de lustrar a estrela em todos os sentidos, o Botafogo precisará estabelecer um claro critério na montagem de seu elenco, levando em consideração a dura equação entre despesa sempre menor que receita.
Mesmo sabendo que haverá cobrança das arquibancadas, o que é normal tratando-se de clube grande que o é, o Botafogo não deveria entrar na fácil tentação de montar um elenco a todo custo para voltar.
Tem que voltar, é fato, mas tem que voltar de uma forma que lhe permita não mais cair, porque caso contrário, o Botafogo sentirá na pele o cenário que assombra o Palmeiras: o medo de amargar dois rebaixamentos consecutivos.E para um clube grande não há nada pior do que cair duas vezes seguidas.