Há um futebol brasileiro antes de 2014 e pós-Copa do Mundo. E aqui nem existe qualquer referência ao desastre do Mundial de 1950 ou mesmo das conquistas dentro de campo de 58, 62, 70, 94 e 2002. O senão gira em torno mesmo da atual década, um momento único na história desse esporte por aqui. Um momento em que parece ter ficado cristalizado que o Brasil perdeu o posto de melhor do mundo no futebol e de referência no jogo.
No entanto, há sinais de reação. Tímidos, ainda? Talvez... Mas o sinais estão aí.
Jovens talentosos jogadores despontam no futebol brasileiro, sob a condição selecionável, após os 10 vexatórios gols em dois jogos no último mundial. Gabriel, Lucas Lima eThiago Maia do Santos; Gabriel de Jesus, Matheus Salles e João Pedro do Palmeiras; Rodrigo Caio do São Paulo; Maycon e Luciano do Corinthians; Luan do Grêmio; Allison do Internacional; Rafael Carioca e Douglas Santos do Galo e a turma do estrangeiro, Douglas Costa, Willian, Renato Augusto e Felipe Anderson.
Alguns, claro, já estavam por aí antes de 2014, mas sequer reuniam maturidade suficiente para sonhar com Seleção Brasileira. Outros literalmente estão despontando e começam a demonstrar consistência tal que deveriam entrar no radar de selecionáveis.
Selecionável, vale o lembrete, não é convocação. É só a turma que insinua ter talento suficiente para entrar no radar da Seleção. E só! Nada mais!
Em outras palavras, portanto, a questão não é falta de pé-de-obra. O xis da questão desse futebol, por vezes, burocrático e mal jogado do Brasil passa pelo deserto tático de ideias. E aí nada contra o Dunga, porque quando houve o convite para seu retorno todos sabiam como o treinador pensava e pensa futebol.
Dunga gosta de um futebol de força, principalmente no setor de meio de campo. Acredita que a velocidade de contra-ataque é letal e que usá-la é um diferencial. Adiantar as linhas de jogo não conversa muito com seu estilo e liberar os laterais simultaneamente também não. Enfim, é um jeito de ver o mundo da bola.
Um jeito que tem outros expoentes, como José Mourinho. Um dos grandes treinadores do mundo, Mourinho é especial no contra-ataque, talvez o melhor de todos os tempos nesse quesito.
Mas essa geração do Brasil insinua ter mais a ofertar, quando se compara com a geração primeira de Dunga, onde contra-atacar, de fato, era o que lhe restava.
É justamente aí que há um descasamento. Dunga, talvez, neste momento, não possa acrescer muito ao estilo de jogadores que tem em mãos. E das duas uma, ou pula fora do barco ou modifica suas crenças.
Portanto, parece ser pouco justo sair gritando a plenos pulmões um "Fora Dunga!". É mais sensato perguntar se não seria o caso de abrir espaço para novas ideias. E novas ideias como as de Rogerio Micale, o treinador da Olímpica, que constrói um sistema interessante de jogo no setor de meio de campo, com jogadores técnicos e marcadores. E não por acaso, o Brasil da meninada é um time deveras insinuante, incisivo, propositor de jogo.
Ou seja, o momento é de reflexão para Dunga... A começar por se é realmente necessário dirigir a Seleção Olímpica? E se o é, por que não aglutinar Micale ao trabalho na principal?
Acaso essas perguntas fiquem sem resposta, daí é o momento de partir para outra reflexão. E essa tem nome e endereço: Centro de Treinamento do Corinthians, favor chamar um tal de Adenor. Fim!