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Um blog de futebol-arte

A grande novidade

Não sei e ninguém sabe quem vai ser campeão paulista. Mas desde já se pode dizer que a novidade deste ano não é o Corinthians de Nilmar, o Palmeiras de Edmundo, o São Paulo de Rogério Ceni ou o Santos de... bem, em falta de craques, de Vanderlei Luxemburgo. A grande novidade do Paulistão-2006 é o Noroeste de Bauru. Não apenas porque, passada mais da metade do campeonato o Norusca continua lá, rondando a ponta da tabela, mas porque o faz jogando bem e bonito. A partida mais agradável a que assisti neste fim de semana foi aquela que o Noroeste perdeu para o Palmeiras por 3 a 1. Perdeu, como poderia ter empatado ou mesmo ganhado. Não é que tenha jogado de igual para igual com o grande da capital - jogou melhor. Atacou mais e de forma consistente. Esbarrou ora na falta de pontaria dos atacantes ora no goleiro Sérgio, que fez uma partida à altura de São Marcos, o titular. Mas o Noroeste atacou, atacou e atacou. Aprendo agora que a folha de pagamento do Norusca é R$ 300 mil por mês, que é o salário de Tevez no Corinthians e menos do que o Luxemburgo ganha no Santos. Aprendo também que há o temor na cidade de que esse belo time seja uma chuva de verão, que passa e se desmancha rapidamente. Bem, se for assim ele não será uma exceção, porque a falta de continuidade tem sido o mal maior do futebol brasileiro, em clubes "grandes" ou "pequenos". De qualquer forma, dure enquanto durar, o fenômeno Noroeste terá sido um refresco nesse início de temporada. Para quem já anda de bode com celebridades que atuam na Europa, e aparecem por aqui apenas para vender de celulares a contas bancárias, é sempre um alívio ver um time formado por pessoas que se ocupam tão somente de jogar bola. E o fazem com categoria e aplicação, colocando os grandes contra a parede. Salve o Norusca. ESTILOS Na contramão do Noroeste, o Santos colhe seus pontinhos com um sistema defensivo ultrafechado. Com elenco mediano, Luxemburgo mantém o time entre os primeiros, mas contraria toda a tradição do clube. Tradição? É isso aí: clubes têm tradição de jogo, e a do Santos vem do tempo de Pelé, revivida depois na era dos Meninos da Vila e, finalmente, na curta primavera de Diego & Robinho. A torcida passa esse ideal de jogo de uma geração para outra e cobra a sua aplicação no time atual. A tradição do Santos é o toque de bola refinado e a força do ataque. E ela foi descartada, pelo menos por enquanto. Montando um novo time, Vanderlei optou pelo futebol de resultado, no qual 1 a 0 é goleada. Isso não quer dizer que tradições não possam ser mudadas com o tempo. A tradição do Corinthians, forjada em anos de sofrimento, é a raça. Mas a torcida se adaptou bem ao jogo mais equilibrado, de posse de bola, de Carlos Alberto Parreira. A tradição do Palmeiras, pelo contrário, era o jogo clássico e cadenciado da Academia. Mudou para um estilo mais aguerrido na era Felipão. Hoje, quando o time não vai bem, a torcida verde cobra raça - como fazia a do Corinthians. Parreira e Scolari comandaram em períodos vitoriosos. E são as vitórias seguidas que permitem algo tão grave como a mudança de uma tradição. Isso é possível enquanto os times ganham. Depois o rio tende a voltar ao seu leito. PARREIRA Assisti ao Parreira no Redação SporTV. O técnico é ave rara no universo do futebol - educado, culto, dotado de bom senso. É fácil concordar com quase tudo o que diz. Sobra, ao menos para mim, alguma coisa que não desce. Parreira é fã de boleiros tarimbados, no que concordo. Na entrevista, elogia uma modalidade específica da experiência. Cita Adriano, que apesar de jovem já tem vários anos de Europa. Cita Robinho, agora ungido pela camisa do Real Madrid. Cita Cicinho, já melhor depois que deixou o São Paulo. Parece que a experiência de jogar em times brasileiros não conta. O jogador nasce quando atravessa o Atlântico. Para ele, Pelé e Garrincha devem ter sido jogadores incompletos.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

28/2/2006

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