O meu interlocutor lembrou que Diego viera do Werder Bremen e eu ajudei sua memória recordando que o meia fora revelado num time chamado Santos Futebol Clube. Nesse ponto seus olhos brilharam. "Sim, conheço a cidade de Santos de fama, e sei que lá está a grande escola do futebol, a escola de Pelé". É isso aí, senhores. A coisa foi pronunciada como se Diego tivesse vindo com uma espécie de selo de qualidade, marca sagrada e indelével, uma denominação de origem controlada como a dos grandes vinhos. A mística do time do Rei não é esquecida por aqueles que amam o futebol, em qualquer parte do mundo.
Saí pedalando e, como uma coisa se associa a outra, lembrei de uma foto antiga que mostrava a dupla Diego & Robinho indo de bicicleta a um treino. Os dois tinham acabado de se revelar e haviam caído no gosto do público - e não apenas dos santistas. Viraram uma espécie de logotipo do futebol feliz, que ainda pode se jogar nesse mundo de esquemas táticos rígidos, legiões de volantes e zagueiros truculentos.
O engraçado é que os italianos louvam características de Diego que já chamavam a atenção no início da sua carreira. O crítico Mario Sconcerti, do Corriere della Sera, diz que Diego não é um "brasileiro clássico, ele joga profundo e de modo quase linear". Diz ainda que ele terá dificuldade em voltar à seleção e não apenas pela concorrência. "É que o Brasil suporta mal a simplicidade extrema, mas na Europa e na Juve esse rapaz que vem do time de Pelé poderá ser decisivo." Como se vê, eles ainda têm uma imagem meio estereotipada dos brasileiros, apesar de um desses grandes simplificadores de jogadas, Kaká, ter atuado tantos anos no Milan.
A gente gosta da simplicidade objetiva desses jogadores, sim. Ainda mais quando misturada a alguma fantasia. Como a de Robinho, por exemplo. Mas, na Itália, agora quem dá bola é Diego.