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Crônica de uma vitória anunciada

21/11/2206

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Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Acho que a vitória do São Paulo no Campeonato Brasileiro não surpreendeu nem a são-paulinos nem a torcedores de outros clubes. Muito menos a comentaristas, repórteres de TV, editores de esportes, focas e escribas em geral. Ninguém foi surpreendido, pois a ascensão do tricolor rumo ao título se dava com a inevitabilidade das marés ou das fases da Lua. Só perderia o título por uma confluência de acidentes rara. O que não aconteceu, e então deu o que se esperava. Essa vitória anunciada, que se desenhou já há algumas rodadas, trouxe de volta algumas vozes agourentas contra o sistema de pontos corridos. "O campeonato fica sem graça", tenho ouvido pelas esquinas, lido em e-mails e blogs. Sei que também seria do interesse da Globo a volta de um sistema com jogos finais, de grande audiência, e portanto mais lucrativos. Sei também que, de agora até o final, o campeonato vai se arrastar. Claro, existem ainda algumas vagas a serem decididas: as da Libertadores, as do descenso e as da Sul-Americana. Mas, convenhamos, também estas já estão quase fechadas. Apesar de Palmeiras e Fluminense ainda estarem ameaçados, parece que a Ponte Preta fechou questão em torno da última "vaga" remanescente para a 2ª divisão. Resta o consolo nada desprezível da Libertadores, com Santos, Vasco e Paraná no páreo, São Paulo, Inter e Grêmio já garantidos, além do Flamengo, que venceu a Copa do Brasil. Assim, deveríamos esperar jogos acirrados dos times que têm vagas pendentes. Não foi o que se viu em Cruzeiro x Santos, partida sem nenhuma criatividade ou mesmo entusiasmo. Isso para não falar de Corinthians contra o rebaixável Fluminense, jogo ruim de doer, aliás um dos muitos de um campeonato que não irá se notabilizar pela qualidade técnica. Sim, o sistema de pontos corridos irá sempre ser chamado de monótono, pelo menos por aqueles que ficaram para trás. Mas pergunte hoje a um torcedor do São Paulo para ver se ele não acha essa a fórmula a correta. O campeonato por pontos corridos beneficia a constância, o planejamento, a "estrutura", essa palavrinha mágica do mundo do futebol. Já qualquer sistema com partidas finais é mais favorável à surpresa, à situação do tudo ou nada, ao lance único e decisivo (que pode também ser o erro de um juiz) e que decide, por ele só, entre o céu e o inferno. As duas fórmulas e também os sistemas mistos (que, por exemplo, selecionam dois ou quatro finalistas por pontos corridos e depois os colocam entre si no mata-mata) têm seus méritos e seus problemas. Nenhuma das alternativas é perfeita. O de pontos corridos é o sistema do poupador responsável, do bom burguês que compreende desde cedo o valor dos três pontinhos de cada jogo. O mata-mata fala mais de perto ao jogador romântico, de cassino, que arrisca toda a fortuna num único lance. Como entendo que o futebol brasileiro, neste momento, precisa mais de planejamento que de aventura, acho interessante manter o sistema de pontos corridos, que premia a racionalidade sobre o romantismo. Está na cara que o São Paulo é o mais pragmático dos clubes brasileiros e por isso venceu. Até agora, é o que melhor assimilou as mudanças no capitalismo da bola e trabalha dentro dessa realidade. O perigo é que se transforme em modelo único, a ser seguido de maneira acrítica. Mas existem muitas maneiras de ser competente e não apenas uma.

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