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Desafios da seleção

17/7/2007

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Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Amigos, a meu ver a seleção brasileira tem dois problemas a resolver, que se tornam mais evidentes com a vitória na Copa América. Talvez os dois estejam interligados. O primeiro diz respeito à forma de jogo e à sua eficácia. A forma é uma expressão do estilo, da escola brasileira, feita de ginga, inventividade, técnica apurada, jogadas imprevisíveis, etc. Vocês sabem: aquelas qualidades que fizeram o nosso futebol famoso no mundo todo. A eficácia se refere à maneira como esse estilo de jogo se mostra capaz (ou não) de vencer. Ele se impôs com clareza em 1958, 1962 e 1970 - para ficar nas Copas do Mundo. Perdeu em 1974, 1978 e, sobretudo, 1982, naquele jogo batizado de A Tragédia de Sarriá. O segundo desafio da seleção é o seu relacionamento com o torcedor brasileiro, que parece ter esfriado. Os motivos são vários e já foram apontados e discutidos pelos melhores cronistas: jogadores que saem cada vez mais cedo para o exterior e perdem contato com o País, mercantilização da imagem da seleção pela CBF, ausência de jogos no Brasil, etc. Esse distanciamento se aprofundou com a derrota para a França na Copa de 2006. Fica a pergunta: se essa seleção de "estrangeiros" se tornar vencedora, nós a sentiremos mais próxima? Se ganhar o hexa na África do Sul, voltaremos a nos apaixonar por ela? Na eventualidade de o Brasil sediar a Copa de 2014, teremos por aqui uma renovada febre de paixão pelo escrete? Voltará ele a ser a pátria em chuteiras, expressão que hoje tendemos a ridicularizar? A julgar pelas declarações após a vitória, Dunga tem clareza sobre alguns pontos. Primeiro: vencer é tudo, e o resultado anula as críticas. Segundo, o título deve ser suficiente para "resgatar a auto-estima do torcedor brasileiro, aquele trabalhador que mora no subúrbio e só tem alegria com a seleção". Ele se esquece de que o consolo do homem do subúrbio talvez seja maior com seu time do que com a seleção, mas esta é uma outra história. Ou seja, para Dunga, é vencendo que a seleção se recoloca no lugar de honra simbólico do povo brasileiro. Será que é assim mesmo? Ele não entende que um retorno ao "estilo brasileiro" seja imprescindível. Talvez porque esse estilo não exista mais, ou tenha se tornado obsoleto no futebol moderno ou mesmo porque ele, Dunga, não tenha grande apreço pela escola brasileira da bola. Não existindo uma identidade estilística a defender, apenas o resultado conta. Ganhou, tem razão. E a vitória, por si só, será capaz de recompor os laços fragilizados entre a seleção e sua torcida. No entanto, devemos lembrar que o estilo brasileiro de jogar futebol não é algo neutro, uma invenção da cabeça de cronistas. É uma espécie de linguagem, marca registrada, construída e depurada ao longo de gerações de craques, de Friedenreich a Domingos, de Leônidas a Garrincha, de Zizinho a Pelé. Uma linguagem corporal que fala às pessoas porque elas se reconheceram nessa forma de jogo. Ou talvez sentiram naqueles jogadores uma espécie de ideal a ser atingido, que expressava o que gostaríamos de ser e não necessariamente o que éramos de fato. Nos imaginávamos completos como Pelé, irreverentes como Garrincha, sábios como Didi, inteligentes como Tostão, valentes como Jairzinho. Daí porque talvez os resultados, que são fundamentais, não digam a última palavra sobre o relacionamento entre o torcedor e a seleção. O Brasil de 2007 certamente não é o mesmo daquele dos anos 1960 e 1970. Qual a "linguagem" futebolística que nos falaria hoje à alma e nos faria retomar o antigo caso de amor com a seleção?

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