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Entre a modéstia e a ambição

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Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

22/7/2008 O campeonato ganha dinâmica própria e cria fatos às vezes estranhos. Por exemplo: fui domingo à Vila e presenciei uma cena que me pareceu inusitada. Depois da sofrida vitória do Santos sobre o Sport, mísero 1 a 0 com direito a sufoco do time pernambucano, vi a exigente torcida do Santos comemorar como se fosse um título. A galera cantou o hino do clube (o oficial) e os jogadores, reunidos no círculo central, agradeceram pelo apoio. Uma confraternização. Em outros tempos, pelo que havia apresentado em campo, o Santos teria saído vaiado pelo resultado magro. Mas, dadas as circunstâncias, foi mesmo uma grande vitória. A euforia dos jogadores e a comemoração da torcida confirmam, se ainda fosse preciso, a draga profunda em que se encontra o time. Se os três pontos parecem preciosos como gotas d'água no Saara, se o reencontro com a vitória depois de 10 jogos sem vencer são fatos dignos de nota, não devem, por isso, encobrir a realidade. O Santos mal jogou para o gasto. Poderia perfeitamente ter perdido para o Sport e ninguém estranharia o resultado. Tomou uma pressão danada dentro de casa e mostrou os problemas de sempre. Não existe ninguém, nem Kléber, que ponha a bola no chão e pense o jogo. A defesa continua muito vulnerável, embora a entrada de Fabiano Eller (para mim o melhor em campo) tenha já mudado um pouco o padrão de jogo naquele setor. E os atacantes continuam descalibrados, perdendo as poucas chances que se criam. Kléber Pereira ia perdendo até o pênalti. Sua sorte foi que o goleiro rebateu a cobrança para a frente e ele próprio arrematou de cabeça. O resultado foi um pequeno refresco para quem ainda está na vice-lanterna (se é que isso existe), mas o Santos não terá vida fácil nesta semana. Justamente porque enfrenta outro time mordido, embora em situação oposta - o Palmeiras. Sim, porque os dois começaram o ano em situações inversas. O Santos cortando despesas; o Palmeiras investindo alto. O Santos perdendo a comissão técnica, que se mudou para o Palmeiras. Perdeu também jogadores, e não repôs. Depois contratou de baciada, saiu da Libertadores, mandou técnico embora, etc. Já o Palmeiras tem elenco de qualidade, para os padrões do futebol brasileiro. Apresentou planejamento grandioso, com direito inclusive a construção de uma arena no Parque Antártica. Se no Palmeiras tudo foi ambição, no Santos a palavra de ordem foi modéstia. Ambos decepcionaram, até agora. O Santos porque provavelmente a diretoria previu que o time ocuparia posição intermediária na tabela. Ficaria ali, vegetando entre a 10ª e a 15ª posições, sem nada a temer ou aspirar. Acontece que o mingau desandou e o rebaixamento virou possibilidade real e palpável. Daí o desespero, contratações em penca, etc. Para ver se o planejamento pífio não redunda em desastre no final do ano. Com bons jogadores e comissão técnica de ponta, o Palmeiras poderia esperar mais regularidade e consistência. Mas, de certa forma, embora esteja em 6º lugar, também decepciona. Tem dificuldade para se impor fora de casa e a derrota para o fraco Goiás pode ter sido o sinal de alerta para Luxemburgo. Com essas duas expectativas opostas - um foge do rebaixamento, o outro aspira ao título -, o clássico desta quinta pode ser eletrizante. O Palmeiras é favorito. Mas, você sabe como é: clássico é clássico, e vice-versa, segundo a frase imortal.

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