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Jogar "à brasileira"

19/12/2006

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Um jornalista catalão disse que o Barcelona foi surpreendido pelo Inter, pois Frank Rijkaard esperava encontrar um time que jogasse "à brasileira". O comentário é típico de um europeu. Autocentrado. Europeus olham para a Europa. E, com temor reverencial, para os EUA. O resto do mundo não interessa. Se prestassem alguma atenção ao nosso campeonato não teriam se surpreendido. Saberiam que, já faz algum tempo, os times brasileiros não jogam "à brasileira", pelo menos não no sentido estereotipado que a expressão tomou: jogo ofensivo, lúdico, com pouco cuidado na marcação e indisciplinado na parte tática. Clichês do passado. Os melhores times do Brasil, São Paulo e, justamente, o Inter, jogam "à européia" - se for para usar outro clichê. São aplicados e não se descuidam da marcação. Saem para o jogo quando podem, na boa. Não podendo contar com grandes craques, por motivos que estamos cansados de saber, os melhores times brasileiros devem se valer de um conjunto solidário, no qual os bons jogadores ainda disponíveis têm de se somar e se aplicar para compor um conjunto coerente e forte. Foi o que fez o Internacional contra o Barcelona, e por isso venceu. Sim, venceu por circunstâncias, como pude comprovar vendo o tape do jogo, repetido pelo SporTV ontem à tarde. Não assisti à partida no momento em que se realizava pois estava dentro de um avião, voltando de Cuba. Quando cheguei, a primeira coisa que fiz foi perguntar ao funcionário da alfândega como havia sido o jogo. E ele me informou da vitória do Inter. Fiquei contente, mas não muito surpreso. Afinal, o Inter repete, passo a passo, a trajetória do São Paulo no ano passado. Chega a Tóquio, passa com dificuldade pelo primeiro adversário enquanto o rival europeu dá show na estréia. O time brasileiro chega à final como azarão, joga com intensidade e disciplina tática e consegue o 1 a 0 que lhe dá o título. Histórias muito parecidas. E exemplares. O Inter venceu por circunstâncias. Verdade. O São Paulo também. Ou alguém já esqueceu que o Tricolor sofreu forte pressão e o Liverpool teve 3 gols (corretamente) anulados por impedimento? Já o Barcelona construiu algumas oportunidades de gol e poderia ter marcado. O jogo me pareceu muito igual e, quando o Internacional teve a sua chance (porque foi única), a aproveitou muito bem. Futebol é isso. O mérito do Internacional foi ter igualado o jogo contando com atletas tecnicamente inferiores aos do Barcelona. E nisso está a mão de Abel Braga, ao compreender que marcar sob pressão era a chave para seu time colocar-se no nível do rival estelar. Igualou-se e então o jogo pôde ser decidido em detalhes. Poderia ter sido um ou outro. Foi o brasileiro. Adorei. Não por sentimento nacionalista, pois passei da idade. Mas o que tenho eu a ver com uma multinacional da bola como o Barcelona, que, como seus confrades europeus, se impõe pela força da grana? Então, viva o Inter! MELHOR DO MUNDO A vitória de Fabio Cannavaro como melhor do mundo me parece justa. Foi o melhor da Copa e a Copa foi o acontecimento futebolístico do ano. Logo, deu a lógica. Mais do que isso: o fato de um defensor ganhar o troféu pela primeira vez diz tudo sobre o que foi a Copa da Alemanha e o que é o futebol atual. Outro detalhe que simboliza o futebol de hoje: entrega de prêmios na Ópera de Zurique, com música de Mozart. Futebol de fraque e cartola. Gostaria demais de entrar na cabeça de pagodeiros como Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho para saber o que pensaram durante a execução de árias do Dom Giovanni e A Flauta Mágica. A não ser que tenham mudado mais ainda do que parece.

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