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Um blog de futebol-arte

Nelson Rodrigues e seu xará

23/1/2007

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Está certo que a seleção sub-20 foi garfada em dois pênaltis prá lá de duvidosos. Mas que os brasileirinhos ficaram abaixo da expectativa, lá isso é difícil negar. Para poder dizer que o Brasil está jogando alguma bola o técnico Nelson Rodrigues teria de ser mais nacionalista que o seu homônimo ilustre, o genial dramaturgo e cronista que definiu a seleção como a "pátria de chuteiras". No domingo, por exemplo, o Chile jogou melhor. Mais rápido, mais entrosado, mais liso, entrava como queria na defesa da seleção. Se você trocasse a cor da camisa tudo pareceria mais lógico - os chilenos jogavam como brasileiros e os brasileiros como...sei lá? Como estão jogando os brasileiros atualmente? Alguém aí sabe? Não faz muito tempo bastava você ver um dos grandes times brasileiros em campo para detectar uma marca, um estilo, uma assinatura. Mais ainda quando se tratava da seleção, que, em tese, seria representante maior dessa nossa maneira de jogar. Cadê o estilo? Sumiu. Os motivos a gente já conhece, e a quem ainda não sabe deles sugiro uma olhada na convocação do Dunga para o amistoso contra Portugal: entre os 22, não há nenhum que atue no Brasil. Nem unzinho, para consolo. Desse modo, a europeização do "escrete", como o chamava Nelson Rodrigues, o escritor, parece inevitável. Pobre Nelson, que não se cansava de cantar e louvar a grande escola brasileira de jogar bola e falar mal da Europa, para ele a grande fraude do futebol. Nelson era assim mesmo. Amante das coisas do seu país, ufanista e exagerado, no entanto entendia como ninguém a relação entre a maneira como se toca na bola e o modo de ser de um povo. Esse Nelson, grande cronista e autor de clássicos como Vestido de Noiva, Boca de Ouro e A Falecida, não viveu para ver a sua pátria de chuteiras jogando como um time de gringos. Poupou-se do sofrimento e morreu em 1980. Seu xará, o Nelson Rodrigues técnico, antenado com o que hoje chamam de "futebol mundial", esse McDonald's da bola, armou um time mais baseado no vigor físico do que na técnica, no molho e na ginga, qualidades que não faz tanto tempo tínhamos por aqui até em excesso. Essa seleção de jovens, de jogadores ainda "brasileiros", é mais trombadora que criativa, apesar de alguns talentos como Alexandre Pato, Lucas e, talvez, Leandro Lima. A fórmula globalizada não está dando certo e a vaga na Olimpíada de 2008 passou a ser duvidosa. Quem sabe jogando mais ao nosso perfil estaríamos em melhor posição. Vai-se saber. E, se é para perder, melhor que seja jogando do nosso jeito, ou não é? Acontece que tanto a seleção principal quanto a seleçãozinha são testemunhas da descaracterização do futebol brasileiro como estilo, linguagem e expressão cultural de um povo. PAULISTÃO Analistas mais capazes já detectaram o perigo de o bloco dos grandes se destacar rapidamente dos outros e assim tirar a graça do campeonato. Os mais otimistas falam de cinco ou seis concorrentes para as quatro vagas dos que decidirão o título de 2007. Bom, é muito cedo ainda para falar, mas a tendência é que isso aconteça mesmo. Se a atual estrutura do futebol brasileiro, construída em benefício dos "empresários" e parasitas, enfraqueceu os times outrora grandes, o que se vai dizer dos pequenos, que lutam com mais dificuldades ainda? Esses, se não for feita uma pajelança para valer no futebol brasileiro, estarão condenados à irrelevância. O que é uma pena.

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