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Um blog de futebol-arte

O mito do cavalo paraguaio

Rodada após rodada esperamos pela queda dos chamados cavalos paraguaios - aquele bicho que dispara lá na frente no começo da corrida e depois vai cedendo passo até acabar comendo poeira dos verdadeiros vencedores. Pois bem, o tempo vai passando, e a Ponte Preta continua galhardamente na liderança. Até onde vai? Não sabemos. Pode até começar a cair a partir do jogo de amanhã contra o Santos. Mas está há seis rodadas em primeiro lugar. Qual o segredo desse time certinho, sem estrelas e que joga a sério todas as partidas? Bem, a resposta pode estar na pergunta: é certinho, não tem estrelas e leva a sério todos o jogos. O técnico Vadão, que está de saída, definiu a Ponte como um time humilde e que conhece as suas limitações. É isso mesmo. No atual estágio do futebol brasileiro, essas pequenas vantagens transformam-se em trunfos da maior valia. Humildade é palavra muito usada por jogadores, mas pouco posta em prática. Com os empresários e seus asseclas inflando egos para fins de mercado, fica muito fácil o salto da chuteira subir até a altura padrão das passarelas de moda. Por outro lado, times como a Ponte, sem jogadores de destaque, ficam mais bem protegidos da voracidade dos compradores estrangeiros. E, cientes das suas limitações, esses jogadores parecem mais dispostos a se aplicar. Em sua despedida, Vadão disse mais: "Com esse time, não dá para jogar bonito". Mas dá para somar pontos. É isso o que interessa? Bem, pergunte a torcedores do Flamengo, Atlético Mineiro ou Vasco, por exemplo, se não gostariam de ter os 29 pontinhos da Macaca. Mas, particularmente, acho que não é só isso que interessa não. Jogar certinho e de maneira aplicada é um mérito. Mas de um futebol pentacampeão do mundo esperamos mais. Queremos luxo e exigimos a fantasia. Como dizia Oscar Wilde: "Dêem-me o supérfluo que eu dispenso o essencial". Não chego a tanto, porque vencer é fundamental. Mas, cá entre nós, de que vale o resultado sem um traço de beleza? OS BOLEIROS E A POLÍTICA Em plena ditadura, Pelé disse que o brasileiro não sabia votar (na verdade o brasileiro não podia votar, o que é diferente). Scolari não perde oportunidade para elogiar Pinochet e tudo de bom que o ditador fez pelo Chile. Agora vem o Rogério Ceni. Como todos nós, escandalizado com a corrupção, Rogério vem dizer que se sente decepcionado com a democracia. Que a democracia não resolve nada. Bem, Rogério, não resolve mesmo, mas é uma condição de sociabilidade tão essencial que a sua existência nem deveria ser objeto de debate. Só quem viveu sob uma ditadura sabe o que é bom pra tosse, o que não é o caso de Rogério, por causa da idade. O problema da democracia não é se deve ou não existir, porque isso já está resolvido. O "x" do problema é saber o que fazemos dela. Pergunte ao Sócrates ou ao Afonsinho o que pensam sobre isso. A REALIDADE CONSTRUÍDA Na noite em que o Real Madrid anunciou que havia depositado US$ 30 milhões para levar Robinho, o Jornal da Globo apresentou matéria especial sobre o jogador. Em tom sorridente e comemorativo, a apresentadora anunciou a transferência do atleta para o exterior, como se, em meio ao lodaçal da política, estivesse por fim dando uma boa nova ao País. Era a notícia positiva, aquela que se entrega ao telespectador como um boa-noite otimista, para que ele possa dormir em paz. Em seguida, a emissora exibiu um clipe com os melhores momentos do craque e entrevistou gente nas ruas de diversas cidades do País. Só ouviu coisas positivas, boas, amenas, votos de boa sorte, etc. Será que mandou algum repórter a Santos, onde hoje Robinho é filme queimado para uma torcida que se considera traída? Não, o contraditório foi omitido, como de hábito. Fica a impressão de que quem se informa apenas pela TV recebe uma visão unilateral da realidade. E talvez não apenas em matéria de futebol .

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

26/7/2005

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