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Um blog de futebol-arte

Professor nota 7, craque nota 10

O futebol mudou muito nos últimos anos. Mas há coisas que parecem eternas e existem desde que a bola começou a rolar e alguém ficou fora do campo para orientar os boleiros. Desde então, de vez em quando acontece de um time insatisfeito fazer greve branca e derrubar o técnico. Aconteceu ano passado quando o Santos se entregou diante do Corinthians e perdeu de 7 a 1 para livrar-se de Nelsinho Baptista. Repetiu-se agora na derrota de 6 a 1 do Palmeiras para o Figueirense, vexame sob medida para demitir o técnico Leão, que, sutil como um elefante obeso, havia qualificado a sua própria equipe de "nota 5". Estava vindo de carro para o jornal quando ouvi a entrevista do já ex-técnico na rádio Jovem Pan. Leão culpava a imprensa dizendo que haviam distorcido sua frase. Segundo ele, dera nota 5 ao time, sim, mas num "universo" de 1 a 7. Uai, como diz o mineiro, eu nunca tinha ouvido falar nessa escala, na vida. Parece desculpa esfarrapada, de quem falou besteira mas não quer assumir. Invenções à parte, fica claro que Leão havia perdido o comando e não tinha mais como motivar o elenco. Resultado: o time nota 5 mandou embora um treinador que se acha nota 10. Ou 7, segundo o seu original sistema de avaliação. O fato é que um time de futebol é uma entidade sensível, que não pode ser tratada aos tapas e pontapés, senão desanda. O elenco do Palmeiras não me parece destoar da média do primeiro escalão no atual futebol brasileiro. Perde para Corinthians e São Paulo, e só. Assim, é inaceitável que tenha caído tanto de produção, a ponto de ser humilhado pelo Figueirense, que, com todo o respeito, não é exatamente um bicho-papão. Agora, com Leão já fora da jogada, o Palmeiras pode crescer e rapidamente. Desse modo, o jogo de amanhã entre Palmeiras e São Paulo, pela Libertadores, ganha um ingrediente a mais. Posso estar enganado, mas acho que o São Paulo estará cometendo grave erro se pensar que vai ter uma galinha morta pela frente. Pelo contrário: vai se haver com uma fera ferida. Uma vez cumprida a missão de derrubar o "professor", os atletas podem voltar a jogar bola e talvez tentem mostrar que honram a camisa que vestem. Resta ver qual será a reação da torcida. Perdoará, em caso de vitória? Ou aprofundará a caça às bruxas se vier novo fracasso? Em qualquer caso, o Parque Antártica vai ferver. Muita calma, porque é jogo de risco. COMPARAÇÕES Mas amanhã também é dia de assistir a Ronaldinho Gaúcho na partida de volta do Barcelona com o Milan. E uso o verbo "assistir" porque se trata mesmo de um espetáculo. Já se escreveu muito a respeito do primeiro jogo e do lance que o decidiu, aquele maravilhoso passe de Ronaldinho a Giuly, de modo que não voltarei ao assunto. Ronaldinho está jogando o fino da bola e me junto alegremente ao seu fã clube mundial. Para quem gosta do futebol-arte é um presente dos céus ver em ação jogador desse nível, em especial quando atua em conjunto tão harmonioso e alegre como o Barcelona atual. Dito isso, tudo o que Ronaldinho não precisava neste momento de glória era ser comparado a Pelé. Até entendo esse tipo de iniciativa vindo da emissora que transmite os jogos em rede aberta e precisa valorizar o seu produto. Entendo também que o pessoal mais jovem ache Ronaldinho tão bom ou até melhor do que Pelé porque cada geração precisa de um ídolo que lhe seja contemporâneo. A mesma compreensão estendo a cronistas e críticos que começaram a acompanhar o futebol dos anos 80 para cá. Agora, para quem viu Pelé jogar - não uma nem dez vezes, não por melhores momentos, gols mais bonitos ou DVD, mas seguiu de perto toda a sua carreira - essa questão simplesmente não se coloca. Vamos curtir o Ronaldinho como ele é, com seu imenso talento, e deixá-lo em paz, livre de comparações sem sentido.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

25/4/2006

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