Ontem vi a Vila Belmiro de volta à sua condição de origem - um caldeirão, panela de pressão a cozinhar a cabeça dos adversários.
Nos últimos tempos, o Santos andava tímido jogando em casa. Muito frio e burocrático. Ontem fez valer a sua condição de mandante e honrou seu centenário estádio, no qual, convém lembrar, jogaram Pelé e tantos outros craques.
Como Dorval, com quem encontramos após o jogo. Resmungão, ele achou que o Santos deveria ter goleado: "uns 4 ou 5 não seriam demais", disse. Para quem não se lembra, ele é o primeiro nome, o ponta-direita do maior ataque de todos os tempos: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. A linha dos Sonhos, todos eles, por sorte, ainda entre nós.
Bem, chega de saudade. O fato é que o novo Santos, o de Levir Culpi, deixou um pouco de lado o estilo de Dorival Jr., que priorizava a posse de bola, e passou a atuar com mais velocidade, apostando muito no contra-ataque.
Uma coisa não exclui a outra. Há momentos para contra-atacar, "chamando" o adversário para o seu campo e tentando sair em velocidade, com a bola recuperada. E há momentos para trocar passes.
Acho que o Santos desenvolveu bem o seu jogo, com o defeito de concentrar as ações pelo lado direito, esquecendo de Bruno Henrique e seu incrível talento nas arrancadas pela esquerda. Isso foi corrigido na segunda etapa e, a meu ver, definiu o jogo.
Lucas Lima fez uma grande partida e reassumiu sua condição de maestro do time. Foi o melhor em campo, além de ter feito um gol, coisa que não acontecia havia meses. É um jogador cerebral, capaz de encontrar brechas nas defesas adversárias, lançar e conduzir a bola como poucos. O excesso de individualismo às vezes o atrapalha. Mas é jogador muito acima da média.
A vitória do Santos por 2 a 0 põe tempero no campeonato. O Corinthians ainda tem gordura, mas esta derreteu um pouco. Está sete pontos à frente do Grêmio e nove à frente do Santos.
É muita coisa. Mas parece perder um pouco daquela aura de imbatível do primeiro turno. Seu jogo me parece ainda sólido e perigoso, mas, ao que parece, os outros times já descobriram como enfrentar o alvinegro.
As próximas rodadas dirão se o Corinthians irá recuperar a estrutura do primeiro turno ou se oscilará na pontuação, como aliás o fazem os outros times. Nesse caso, precisará administrar muito bem o que lhe resta de vantagem.
De qualquer forma, o campeonato, que já parecia fechado, abriu-se. O futebol não tolera muito as previsões. Ri-se delas.