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Um blog de futebol-arte

Que 2007 seja o ano das exceções

2/1/2007

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Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Nesta primeira coluna, além de renovar os votos de feliz 2007 aos leitores, me pergunto quem será a personalidade da bola no ano que se inicia. Digo isso amparado num fato que é de domínio público, quase um óbvio ululante, como dizia Nelson Rodrigues: futebol é jogo coletivo e assim deve ser analisado, mas perde graça na ausência de protagonistas marcantes. Sem ao menos um jogador que nos impressione por sua personalidade, por seu caráter magnético, por sua aura, não há magia em campo. Sem magia não há poesia e, sem poesia, futebol e vida se tornam chatos demais. Esse jogador não precisa ser uma figura exemplar, embora figuras exemplares também sirvam para o papel. Pode até ser um bad boy. Desde que seja aquele cara para o qual os olhares convergem quando entra em campo. Aquele que inspira respeito porque nunca se sabe o que irá aprontar de uma hora para outra. Aquele tocado por alguma graça divina, como a raça em estado puro (Rondinelli, Almir Pernambuquinho), a classe (Ademir da Guia), o espírito lúdico (Garrincha, Ronaldinho Gaúcho, Robinho) ou todas essas qualidades juntas (Pelé). Na ociosidade futebolística do fim de ano pensei no caso e só encontrei um nome destoante da mesmice de 2006: Zinedine Zidane. Revi jogos e lances da Copa e agora, distante da paixão do momento, me encantei de vez com Zizou. Que topete diante daquele inepto time do Brasil, dando chapéu em Ronaldo, controlando a bola, fazendo embaixadinha diante dos pobres jogadores da seleção brasileira. Que atrevimento! Aquele golaço contra a Espanha, feito quase que com displicência, por desfastio. E no último jogo? Cobrando aquele pênalti de cavadinha, como se estivesse jogando uma pelada num campinho de terra batida e não uma final de Copa do Mundo. São momentos de pura satisfação futebolística para hedonistas da bola. E chego à cena final, uma das imagens mais marcantes do ano, a cabeçada seca no peito de Materazzi, tão deplorada e discutida, mas testemunha, entre outras coisas, da liberdade de Zizou consigo mesmo. Deve ter pensado, como um raio, algo assim: "Quer saber, não vou deixar barato o que esse italiano falou, e o resto que se dane". Digam o que disserem, foi uma grande e inesquecível saída de cena. Péssimo exemplo, mas com tanta personalidade... Quem será esse jogador em 2007? Teremos esse tipo de boleiro, e no Brasil, ainda por cima? Duvido um pouco e quero ser desmentido. Mas estamos em uma bruta carência desse jogador que bota sal e pimenta num jogo. Robinho era dessa estirpe e estava no caminho certo, mas foi comprado pelos euros e talvez consigam domesticá-lo com o cabresto de Fabio Capello. Sabe quem eu acho que pode ser assim no futuro? O Alexandre Pato, que teve a petulância de controlar a bola no ombro algumas vezes no primeiro jogo do Inter no Mundial de clubes. Mas é ainda um garoto. O Kérlon, aquele do drible da foca, também seria candidato, mas sumiu de cena e agora, parece, anda pretendido pelo Palmeiras. São ainda promessas, apenas isso. Esse ano encerrado de 2006 foi marcado pelo discurso do bom senso, do elogio à regularidade, à disciplina, ao controle racional do jogo. Foi o ano da Itália campeã do mundo, e de Cannavaro, melhor jogador. Tudo muito justo e certo, concordo, mas eu espero que no ano de 2007 tenhamos, além da regra, também a exceção. Ou as exceções, se não for pedir muito.

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