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Rivais em direções opostas *

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Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Ninguém tem bola de cristal, mas alguns movimentos dizem o que se pode - e o que não se pode - esperar dos clubes paulistas neste início de ano. De Corinthians e São Paulo, que terminaram o Campeonato Brasileiro em posição melhor, já se sabe que serão competitivos. O São Paulo está na Libertadores e o Corinthians precisa passar pelo Once Caldas para entrar na fase de grupos. De toda forma, estar hoje em dia na Libertadores significa muito, tanto em termos simbólicos quanto financeiros.

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As novidades, tanto positivas como negativas, ficam por conta de Palmeiras e Santos. A boa nova vem do Palmeiras que, depois de quase cair em 2014, parece ter tomado a injeção de autoestima que o faz enxergar o óbvio: é clube de tradição grandiosa, para viver disputando títulos e não brigando para escapar do descenso. Tem contratado bem, e seu presidente, Paulo Nobre, marcou um golaço ao trazer o atacante Dudu, que também interessava a Corinthians e São Paulo. E agora, outro, com Robinho, ex-Coritiba. Em tese, são ótimos reforços. Mas, além disso, representam uma mudança de atitude. O Palmeiras está de volta e briga entre os grandes, com os seus iguais. Faz parte do Trio de Ferro, fato que nos últimos anos era quase esquecido em função de administrações medíocres. Não basta a um clube ter grandeza; é preciso assumi-la e afirmá-la, como o Palmeiras vem fazendo.

Já a má notícia fica por conta do Santos, com um começo de ano terrível. Com salários atrasados, Arouca e Mena já entraram na justiça para desligar-se do clube. O destino de Arouca deve ser o Palmeiras e o de Mena, o Cruzeiro. Outros jogadores podem seguir o mesmo caminho. Há cheiro de desmanche no ar. Ora, o elenco já não era lá essas coisas, como ficou provado pela campanha sofrível de 2014. Se não contrata ninguém e perde os poucos jogadores de qualidade que tem, como enfrentará seus compromissos? É o que a torcida vem murmurando pelos cantos, cabisbaixa. Tenho falado com muitos torcedores santistas, não fanáticos, mas gente lúcida, e todos compartilham o mesmo pensamento - 2015 será ano de lutar para não ser rebaixado. Pode o time de Pelé ser submetido a tamanha humilhação? Brigar para não cair?

Se o Palmeiras parece disposto a reencontrar-se com sua grandeza, o Santos mostra-se esquecido da sua. De estádio novo (perdão, de "arena" nova, como gostam os modernetes), o Palestra entra em 2015 para disputar títulos. O Santos já tem seu estádio que, apesar das limitações físicas, é um templo do futebol. Possui mais que isso: longa tradição de títulos, jogadores mágicos e revelações surpreendentes, mas encara 2015 com o horizonte mediano de evitar o pior. Péssimo começo de dirigentes recém-empossados.

Claro, estes podem se defender como fazem os políticos quando há alternância de poder e se queixam da "herança maldita" deixada pelos antecessores. Pode ser isso mesmo. A gestão anterior do Santos vendeu um time inteiro de bons e ótimos jogadores (inclusive um craque), contratou mal e acabou afundada em dívidas. Onde foi parar o dinheiro? Durante a campanha, as oposições costumavam dizer que a situação financeira do clube era "um filme de terror". Ouvi essa expressão mais de uma vez pelos lados da Vila.

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A primeira coisa que ocorre seria perguntar por que se deseja comandar uma entidade falimentar? Vamos admitir que seja por senso de dever. Assume-se a direção do clube que se ama para tirá-lo da situação difícil deixada pela (má) gestão anterior. Ok. Nesse caso, a obrigação seria abrir a caixa-preta e mostrar à luz do sol a dura realidade das contas santistas. Exibir à comunidade alvinegra esse filme de terror, do princípio ao fim, para que todos tenham consciência do que enfrentarão. Caso oculte os malfeitos da gestão anterior, a atual diretoria passará recibo a eles e assumirá culpa que talvez não seja sua. Mau negócio.

* Publicada na versão impressa do Estadão 

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