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Um blog de futebol-arte

Torcer e secar na reta final

24/10/2006

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Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Com quem o São Paulo joga agora? Passou a ser esta a pergunta de todos os secadores do Brasil depois que o tricolor botou a proa na direção do título. "Joga com o Figueirense, lá, e não vai ter vida fácil", diz um amigo santista aqui no jornal, cheio de esperança. E faz contas. "Perde lá em Florianópolis, depois tem um jogo de seis pontos com a gente e pronto: estamos chegando em cima deles." Não tenho tanto contato com o pessoal do Grêmio e do Inter, mas imagino que alimentem por lá suas matemáticas particulares, pouco diferentes da do nosso amigo santista. Enfim, o futebol, como a política e a vida em geral, é, em boa parte, movido pela esperança. E nem sempre a esperança tem lógica, embora, no caso do campeonato, se possa dizer que ainda dispomos, de fato, de 24 pontos em jogo. E assim, na teoria, tudo pode suceder. Tudo mesmo, pois essa é a natureza da tal "caixinha de surpresas", como diziam os nossos antecessores. Mas, para além da lógica, e da matemática da esperança, existe o rigor do bom senso. E este recomenda reconhecer que dificilmente o São Paulo se afastará do rumo. Não apenas pela vantagem acumulada (afinal, são sete pontos sobre o segundo colocado), mas pela maneira convincente como voltou a jogar. Não que o tricolor apresente um futebol de sonhos, de dar água na boca, aquele futebol iluminado que apresentaram, digamos, o Santos de 2002 ou o Cruzeiro de 2003, para não incorrermos no pecado (hoje mortal) da nostalgia. Nada disso. O São Paulo joga um bom feijão com arroz. Um futebol consistente, de "sustância", que lhe permite ir ao Sul e arrancar um empate do Grêmio com o Olímpico lotado torcendo contra. Tem, não por acaso, uma administração também consistente, que lhe possibilita repor jogadores com rapidez, agilidade fundamental nesta época de vertiginosa rotatividade de atletas. Então, o que aconteceu? O São Paulo deu uma balançada, mas já se reaprumou. Por essa característica, pela solidez, e não apenas pela gordura acumulada, é que julgo a fatura já decidida para o tricolor. A não ser que entre em campo aquele personagem que Nelson Rodrigues chamava de Sobrenatural de Almeida. Mas, mesmo admitindo que o Campeonato Brasileiro de 2006 já tenha vencedor, nem por isso ele perdeu a sua graça. Mesmo porque alguns jogos têm sido muito interessantes, já que muito disputados. Um bom exemplo foi o próprio empate do São Paulo com o Grêmio, partida cheia de alternativas táticas e de variações de predomínio em campo. Ora, um jogo no qual sai um gol antes do primeiro minuto já tem tudo para ser excepcional porque destrói expectativas e planejamentos. O Grêmio sentiu o golpe, mas conseguiu se reequilibrar e empatou. Não teve forças para vencer, mas o mérito é também da marcação firme do São Paulo. E o campeonato tem muita lenha ainda para queimar. Pense só no jogaço que poderá ser este Corinthians x Palmeiras, amanhã à noite. A maior rivalidade da cidade. Dois gigantes de torcidas enormes e tradições suntuosas. Mas dois gigantes feridos, separados por meros dois pontos, e ainda rondando a zona do rebaixamento. Bom, nenhum dos dois deve cair porque Fluminense e Ponte Preta estão fazendo a sua parte com rara competência. Mesmo assim, será um jogo escaldado por uma rivalidade ancestral e apimentado por um presente de penúria. E o vencedor (se houver) terá dupla recompensa. Além de se distanciar do perigo, ganha o bônus de afundar o inimigo. Não perco um jogo desses por nada deste mundo.

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