Assim, com a emocionante salvação palmeirense - e a tristíssima queda dos dois baianos, deixando apenas um nordestino na Séria A de 2015, o Sport do Recife - terminou o campeonato nacional de 2014, um ano especial para o futebol brasileiro sob vários aspectos.
Ano em que o próprio Campeonato Brasileiro foi interrompido na nona rodada para a realização da Copa do Mundo em território nacional. Copa que, jamais esqueceremos, marcou o maior vexame da seleção brasileira, em casa e diante do seu público.
Ano em que perdemos, talvez a melhor oportunidade oferecida pela tragédia para, de uma vez para sempre, passar a limpo o futebol brasileiro. Como sabemos, nada aconteceu e o continuísmo prevalece.
Ano em que o campeão, o Cruzeiro, destacou-se pelo futebol moderno e ofensivo - semelhante (eu disse semelhante e não igual) àquele que admiramos durante a Copa do Mundo, em especial vendo jogar a Alemanha e a Holanda. Outro mineiro, o Atlético, também brilhou e derrotou o campeão brasileiro na Copa Sul-americana, ficando assim com uma das vagas para a Libertadores da América do ano que vem. Mais que isso, como seu conterrâneo, o Atlético apresentou um futebol bonito de ver, digno da tão abalada tradição brasileira,
Na verdade, apesar da disparidade do Cruzeiro em relação a outros times, devemos reconhecer que o campeonato melhorou no segundo semestre. Não apenas pelo Atlético-MG, mas pela subida de produção do São Paulo e também do Internacional de Porto Alegre. Em meio à mediocridade quase geral, houve alguns jogos interessantes.
Esse futebol bem jogado deu suas caras por aqui, como exceção e não como regra. Times mais compactos, trocas de passes, habilidade, gols bonitos, emoção. Tudo isso se viu, nunca na frequência desejada. Seria crueldade tirar a média de qualidade dos jogos. Não daria para passar de ano.
O fato é que, em escala global, o futebol brasileiro conformou-se com sua posição subalterna. Não consegue concorrer com os mega clubes europeus. Também perde jogadores para a Turquia, para o chamado "mundo árabe", para os Estados Unidos e agora até para a China. Desse modo, já escrevemos meus colegas e eu milhões de vezes, não há futebol que aguente. Como nada se faz para alterar esse estado de coisas, vamos vivendo do jeito que podemos. Da mão para a boca, como diz o povo.
O futebol brasileiro mudou de perfil. Exporta talentos e importa boa quantidade de jogadores de fora, em especial latino-americanos. Teve de alterar a regra que estabelecia o limite de três estrangeiros por time, aumentando-o para cinco. Tanto a evasão como a importação parecem fenômenos de ordem econômica e sentimo-nos impotentes para intervir nesse processo. Somos jogados de lá para cá pelas marolas do mercado, quais barquinhos de papel. E essa inação diante do panorama internacional adverso talvez seja a medida maior do nosso fracasso. Maior que os 7 a 1, que apenas o simbolizam de forma dramática, mas não definitiva. Espero.
* Coluna publicada na versão impressa do Caderno de Esportes do Estadão