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Uma lágrima por Maria Ester Bueno

Naquele tempo ninguém precisava gostar de tênis para amar Maria Ester Bueno, que nos deixou ontem aos 78 anos. Ela fazia parte de um conjunto de signos positivos sobre o Brasil, junto com Éder Jofre, a seleção da Copa da Suécia, a bossa nova, JK, a construção de Brasília, a implantação da indústria automobilística.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

Naquele tempo ninguém precisava gostar de tênis para amar Maria Ester Bueno, que nos deixou ontem aos 78 anos.

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Ela fazia parte de um conjunto de signos positivos sobre o Brasil, junto com Éder Jofre, a seleção da Copa da Suécia, a bossa nova, JK, a construção de Brasília, a implantação da indústria automobilística.

Eram sinais evidentes de que o Brasil não era mais o "país do futuro" - o futuro havia chegado. Tínhamos um presidente moderno, de permanente sorriso nos lábios, a música era reconhecida e tocada no exterior, uma cidade futurista nascia no meio do cerrado, as conquistas esportivas se davam em mais de uma modalidade esportiva - no elitista tênis, no popular boxe, no amado futebol. Quando a seleção levantou a Jules Rimet em Estocolmo, Nelson Rodrigues proclamou que o brasileiro havia vencido seu "complexo de vira-latas", aquele que o fazia ver-se como ser inferior no concerto das nações.

Com a morte de Maria Ester é mais um desses signos que se vai. Eder continua por aí, mas o boxe nunca mais produziu alguém como ele. A seleção ganhou outras quatro Copas, mas ninguém mais parece ligar para a competição que está para iniciar na Rússia. De projeção futurista, Brasília injustamente passou a ser sinônimo de covil de ladrões (a cidade não tem nada a ver com gente que lá chega para assaltar o Estado). O tênis produziu um Guga, mas ele já parou de jogar e aparentemente não deixou seguidores. Os automóveis, de signo de modernidade passaram a infestar as ruas e transformaram as cidades em infernos. O sorriso de JK foi convertido na carranca corrupta dos atuais governantes.

O Brasil, de utopia virou distopia.

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Adeus, Maria Ester. E obrigado por nos ajudar a sonhar.

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